sábado, 15 de outubro de 2011

Biografia do pintor Almada Negreiros

Autocaricatura em O Século Cómico, 1913
José Sobral de Almada Negreiros, nasceu em São Tomé (1893) e morreu em Lisboa (1970). Ficou órfão de mãe em 1896. Foi internado com o seu irmão António (no ano em que  seu pai partiu para Paris (1900) no Colégio dos Jesuítas de Campolide (Lisboa) onde viveu durante dez anos, mesmo no tempo de férias. Sendo o  Colégio encerrado pelo governo republicano, Almada frequentou o Liceu Camões em 1911 e depois, até 1913, a Escola Internacional de Lisboa. (Saiba mais)

Desenho em A Sátira, 1911
Em 1911, no jornal  A Sátira, Almada publicou pela primeira vez um desenho. Em 1912, colaborou em numerosos jornais e revistas: A Rajada (Coimbra), A Manhã (Porto), A Bomba (Porto). Neste ano participa na I Exposição dos Humoristas , no Grémio Literário.  Ainda na Escola Internacional, realizou em Março de 1913 uma exposição de caricaturas, que chamou a atenção para o jovem Almada. A Ilustração Portuguesa e O Século Cómico publicaram reproduções e uma autocaricatura. Fernando Pessoa depois desta exposição, publica na revista A Águia (1913) um  texto sobre a arte da sátira, onde fala de Almada. O convívio entre os dois intensifica-se, Fernando Pessoa reconhece  Almada como um génio  e  este  colabora na 1ª edição da revista Orfheu (1915) com o texto Frizos. 

Capa do catálogo da I Exposição dos Humoristas Portugueses, 1912

Desenho Humorístico (Senhores Conversando)
Em consequência da guerra de 1914-1918, Almada passou a conviver com Santa-Rita Pintor, dando ocasião a que as revistas Orfheu nº 2 (1915) e Portugal Futurista (1917), não fossem exclusivamente de pessoas ligadas às letras. A revista Portugal Futurista teve a colaboração de Santa-Rita Pintor, José de Almada Negreiros e Amadeo de Souza-Cardoso.  

Capa de Portugal Futurista, 1917
Amadeo de Souza-Cardoso que se encontrava em Manhufe, Amarante, em consequência da guerra, escreveu a Almada e dispôs-se a realizar uma grande exposição das suas pinturas. No Porto, a exposição teve o título de Abstraccionismo, em Lisboa, foi realizada um mês depois sem título. Depois desta  exposição, em Abril de 1917, tem lugar a conferência futurista no Teatro República (hoje São Luís), onde Almada divulga o Ultimatum Futurista às Gerações Portuguesas do Século XX.

Ilustração de Histoire du Portugal par coeur , 1922

Espanhola, tinta de água, tela, 1926
A Primeira Guerra Mundial acabou em 1918. Almada parte para Biarritz e Paris (1919-1920). Aí teve diversas ocupações para sobreviver (bailarino de cabaré, empregado numa fábrica de velas…), redigiu  Histoire du Portugal par Coeur  e a peça Antes de Começar. Regressa a Portugal, em 1921 profere a conferência A Invenção do Dia Claro. Participa em exposições da SNBA. 
Viveu entre 1927 e 1932 em Espanha, onde realizou decorações murais na Cidade Universitária de Madrid, nos cinemas San Carlos, Barceló e no Teatro Muñoz Seca.

Auto retrato, 1924-1928

Arlequim, desenho a lápis, 1925
Almada regressa a Portugal em 1932, vindo de Espanha, ao mesmo tempo que Mário Eloy, vindo da Alemanha. A eles junta-se Sarah Afonso, com quem Almada veio a casar em 1934.

Durante os anos 30, realizou algumas das suas obras importantes: Duplo Retrato (1934), Maternidade (1935), Arlequim (1937), vitrais para a Igreja de Nossa Senhora de Fátima (1938), Retrato de Sarah Afonso (desenho, 1938) A Sesta (desenho, 1938), um fresco para o edifício de Diário de Notícias (1939-1940).

 

Retrato de Sara Afonso, desenho, 1938
"Quem não sabe arte não na estima", fresco da sede do Diário de Notícias em Lisboa, 1939-1940
Vitrais, Igreja de Nossa Senhora de Fátima em Lisboa, 1938-1939

Nos anos 40, as grandes pinturas murais definem uma época importante no conjunto da obra de Almada: Gare Marítima de Alcântara (1943-1945), Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos (1946-1949). Almada realizou numerosos guaches e estudos preparatórios para estas obras. Nos murais da Gare Marítima de Alcântara, estão representados aspectos da vida quotidiana à beira-rio, a Lenda da Nau Catrineta, a Lenda de D. Fuas Roupinho salvo pela Virgem no Sítio da Nazaré, o Castelo, o Palácio do Conde de Óbidos e a Sé.

Em 1946 recebeu o Prémio Domingos Sequeira na I Exposição de Desenho, aguarela, guache e pastel (SNI).

 Auto-retrato com a mulher e os filhos, guache, 1944

 "Quem nunca viu Lisboa, não viu coisa boa" pormenor do triptico da Gare Marítima de Alcântara em Lisboa, 1945

 "Domingo Lisboeta", pormenor do triptico da Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos em Lisboa, 1946-1949

As décadas de 50 e 60  são grandes em obras e exposições: vitrais para a Igreja de Santo Condestável em Lisboa (1951), exposição individual na Galeria de Março (1952), pintura do 1º Retrato de Fernando Pessoa (1954), participação na III Exposição Colectiva na Galeria Pórtico (1955), painéis cerâmicos para o bloco das Águas Livres, em Lisboa, para a Escola Patrício Prazeres, em Lisboa (1956), participação na I Exposição Gulbenkian (1957), na Primeira  Retrospectiva de Pintura Não-Figurativa Portuguesa (1958),  realização de cartões para tapeçaria da Exposição de Lausanne (1958), ecoração das fachadas das Faculdades de Letras e de Direito da Cidade Universitária de Lisboa, 1957-1961. Prémio Nacional das Artes (SNI) (1959).

 Nu à janela, guache, 1946

 Vitrais da Igreja de Santo Condestável em Lisboa, 1951
 
Vitrais da Igreja de Santo Condestável em Lisboa, 1951

 1º Retrato de Fernando Pessoa, 1954

Em 1963, foi homenageado a propósito do seu 70º aniversário. Realizou uma exposição retrospectiva na SNBA. Realizou o 2º Retrato de Fernando Pessoa para a Fundação Calouste Gulbenkian (1964), foi nomeado procurador à Câmara Corporativa (1965), publicou Orpheu 1915.1965, recebeu o prémio Diário de Notícias (1966), recebeu o Grande Oficialato da Ordem de Santiago da Espada (1967), participou no programa Zip Zip de Raul Solnado e realizou os frescos na Faculdade de Ciências de Coimbra (1969).

"Os Maias", Carlos da Maia e João da Ega - Pormenor da fachada gravada da Faculdade de Letras da Cidade Universitária de Lisboa, 1957-1961

Durante décadas, Almada pesquisou procurando coincidências nos elementos estruturais das figuras geométricas mais simples: circulo, triângulo, quadrado, pentágono… Aplicou o resultado dos seus estudos no desenho ínciso no átrio da sede da Fundação Calouste Gilbenkian em Lisboa intitulada Começar. A realização demorou oito meses 1968-1969.
O "Retrato de Fernando Pessoa" é leiloado em 1970, ano em que morre Almada Negreiros.

Começar, desenho ínciso no átrio da sede da Fundação Calouste Gilbenkian, em Lisboa, 1968-1969



 Começar, pormenor do desenho ínciso no átrio da sede da Fundação Calouste Gilbenkian, em Lisboa, 1968-1969

 "Homenagem a Amadeo de Souza-Cardoso", lápis de cera, 1970

 Fotografia de Almada Negreiros, à saída do leilão do "Retrato de Fernando Pessoa", publicada no Diário de Notícias em Janeiro de 1970

Saber mais aqui no comjeitoearte




Fontes: 
França, José-Augusto (1974), Almada Negreiros o Português sem Mestre, Lisboa: Estúdios Cor 
Gonçalves, Rui-Mário (2005), Almada Negreiros, Lisboa: Caminho, Paço de Arcos: Edimpresa

3 comentários:

  1. Cara Isa Lisboa,
    boa tarde

    Poderia fazer-me o favor de indicar a partir de que livro ou artigo de imprensa, ou qualquer outra fonte, digitalizou aquela capa da revista "Portugal Futurista"? Investigo sobre Santa Rita e não conhecia o exemplar.

    Parabéns pelo blog!

    Muito grato pela sua ajuda,
    com os melhores cumprimentos,

    João

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    1. Bom dia, estimado João.

      A capa da revista "Portugal Futurista", foi digitalizada de uma imagem do livro: França, José-Augusto (1974), Almada, o Português sem Mestre. Lisboa: Estúdios Cor, 47-49.

      Agradeço-lhe o interesse demonstrado.
      Saudações.


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