quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Lisboa Pombalina - Reconstrução da cidade

Plantas e projectos para as edificações da Baixa

Vista parcial da Praça do Comércio. Fotografia de António Pedro Ferreira - Vieira, Alice (1993), Esta Lisboa. Lisboa: Caminho, S.A.
Para que a realização da obra da reconstrução de Lisboa fosse possível, com método, eficiência e segurança, tornou-se necessário a organização de uma grande oficina que tudo coordenasse. Marquês de Pombal cria a “Casa do Risco das Reais Obras Públicas”, gabinete de trabalho constituído por uma equipa de engenheiros e arquitectos, quase todos com formação militar, que comandou todas as operações.
O seu primeiro dirigente foi, Eugénio dos Santos (1711-1760), sucedendo-lhe sucessivamente, na orientação das obras, Carlos Mardel (1696-1763) Reinaldo Manuel dos Santos e Manuel Caetano de Sousa (1730-1802). Esta oficina foi responsável pela formação de uma geração de arquitectos.

Plano da Cidade de Lisboa. Projecto nº 3. Desenho à pena sobre papel. Elaborado pelo Capitão Eugánio dos Santos e Carvalho e pelo Ajudante António Carlos Andreas (neste projecto estão signaladas a preto todas as ruas, travessas e becos antigos, e as ruas escolhidas de novo com toda a liberdade estão a branco. Estão representadas a Alfandega do tabaco, Baluarte do terreiro do Paço e entrada do Pelourinho). Museu da Cidade. Fotografia, Estúdios Horácio Novais - CML  (1982), Exposição Lisboa e o Marquês de Pombal, Museu da Cidade. Amadora: Heska Portuguesa.
Planta topográfica da cidade de Lisboa arruinada, também segundo o novo alinhamento dos arquitectos Eugénio dos Santos Carvalho e Carlos Mardel, litografia colorida, 1947. Dim.: 57mm X 83mm. Projecto escolhido para a reconstrução de Lisboa após o Terramoto de 1755, da autoria dos arquitectos Eugénio dos Santos Carvalho e Carlos Mardel e datado de 12 de Junho de 1758. Apresenta a particularidade de mostrar, a rosa, as áreas arruinadas pelo terramoto de 1755, às quais se sobrepõe o projecto de reconstrução definitivo elaborado. A planta permite verificar a área abrangida pelo plano de reconstrução: S. Paulo, pelos arquitectos Eugénio dos Santos Carvalho e Carlos Mardel (escala: 2000 palmos) - Museu da Cidade 
Planta parcial de Lisboa III, desenho a tinta-da-china e aguarela s/ papel. Sec. XVIII (2ª metade). Dim.: 650 x 910 mm. Planta parcial de Lisboa representando, a rosa, a malha urbana pré-terramoto da zona compreendida entre o Cais do Sodré e o Largo da Misericórdia, à qual se sobrepõe o traçado da reconstrução - Museu da Cidade

Planta parcial de Lisboa II, desenho a tinta-da-china e aguarela s/ papel. Carlos Mardel, Eugénio dos Santos, Sebastião Elias Poppe e Carlos Andreias. 11 de Agosto de 1757. Dim.: 1580 x 1290 mm. Planta topográfica da zona compreendida entre o Bairro Alto, Amoreiras, Arco do Carvalhão, S. Sebastião da Pedreira, Anjos e Rossio, elaborada segundo as directrizes de Manuel da Maia - Museu da Cidade
Com as plantas para a reconstrução de Lisboa já cumpridas, seguiram-se os primeiros projectos para o modelo de casas a serem edificadas na “Baixa” e outras zonas da cidade. Foram assinados por Eugénio dos Santos que os elaborou segundo as determinações de Manuel da Maia, no que respeita à altura dos prédios, número de andares, guarda-fogos... apresentam dois andares, além da loja, com varandas corridas em ambos os andares ou apenas no primeiro andar. 

Projecto nº 2. Pode ver-se a altura e simetria dos edifícios com dois andares sobre as lojas, ambos de janelas rasgadas, com divisões de paredes altas sobre os telhados para defesa da comunicação de incêndios (guarda-fogos). Desenhos a tinta da China com aguada e pormenores a aguarela cor de rosa. Ass. Eugénio dos Santos, 1756. Museu da Cidade.
Fotografia, Estúdios Horácio Novais - CML  (1982), Exposição Lisboa e o Marquês de Pombal, Museu da Cidade. Amadora: Heska Portuguesa.
Pormenor do projecto anterior, ampliado com grades no passeio. Desenho a tinta da China,com aguada e pormenores aguarelado a cor de rosa. Ass. Eugénio dos Santos, 1756. Museu da Cidade.
Fotografia, Estúdios Horácio Novais - CML  (1982), Exposição Lisboa e o Marquês de Pombal, Museu da Cidade. Amadora: Heska Portuguesa.

Um novo projecto realizado entre 1758 e 1759, igualmente assinado por Eugénio dos Santos, prevê três andares, além das lojas, o primeiro de janelas rasgadas com balcão corrido, dois de janelas de peitoril e o último amansardaddo. Estes projectos estiveram na base das construções da “Baixa” pombalina.


Projecto das frontarias para as ruas principais, que se mandam edificar em Lisboa, baixa arruinada e se dividem com colunelos para separação do uso de gente de pé do das carruagens. Desenho a tinta da China aguarelada. Ass. Eugénio dos Santos e Carvalho e ass. de  Sebastião Joseph de Carvalho e Mello, no canto superior esquerdo. (Este projecto faz parte do Atlas com 70 plantas para a reconstrução da cidade, do Arquivo Histórico Municipal). Fotografia, Estúdios Horácio Novais - CML  (1982), Exposição Lisboa e o Marquês de Pombal, Museu da Cidade. Amadora: Heska Portuguesa.

Projecto do primeiro quarteirão da Rua Aurea vindo do Rossio para a Rua do Comércio lado direito. Desenho a tinta da China. Ass. Conde de Oeyras, no canto superior esquerdo. Arquivo Histórico Municipal. (Este projecto faz parte do Atlas com 70 plantas para a reconstrução da cidade, do Arquivo Histórico Municipal). Fotografia, Estúdios Horácio Novais - CML  (1982), Exposição Lisboa e o Marquês de Pombal, Museu da Cidade. Amadora: Heska Portuguesa.
Projecto das casas que o Ilm.º e Exm.º Sr. Marquez de Pombal mandou edificar na Rua Nova de S. Paulo. Desenho a tinta da China. Ass. do Marquez de Pombal, no canto superior esquerdo. Arquivo Histórico Municipal. (Este projecto faz parte do Atlas com 70 plantas para a reconstrução da cidade, do Arquivo Histórico Municipal). Fotografia, Estúdios Horácio Novais - CML  (1982), Exposição Lisboa e o Marquês de Pombal, Museu da Cidade. Amadora: Heska Portuguesa.
Projecto das casas do Ilm.º e Exm.º Sr. Marquez de Pombal na Rua de S. João, no lado poente. Desenho a tinta da China. Ass. do Marquez de Pombal, no canto superior esquerdo. Arquivo Histórico Municipal. (Este projecto faz parte do Atlas com 70 plantas para a reconstrução da cidade, do Arquivo Histórico Municipal). Fotografia, Estúdios Horácio Novais - CML  (1982), Exposição Lisboa e o Marquês de Pombal, Museu da Cidade. Amadora: Heska Portuguesa.
Projecto para o lado oriental da Rua das Chagas. Desenho com aguada. Ass. do Marquez de Pombal, no canto superior esquerdo. Arquivo Histórico Municipal. (Este projecto faz parte do Atlas com 70 plantas para a reconstrução da cidade, do Arquivo Histórico Municipal). Fotografia, Estúdios  Horácio Novais - CML  (1982), Exposição Lisboa e o Marquês de Pombal, Museu da Cidade. Amadora: Heska Portuguesa.
Planta e projecto da rotunda e casas do Marquez de Pombal, na rua Formosa e Calçada dos Caetanos. Desenho aguarelado. Ass. Conde de Oeyras, no canto superior esquerdo. A. H. M. H.  e Obras Públicas. Fotografia, Estúdios Horácio Novais - CML  (1982), Exposição Lisboa e o Marquês de Pombal, Museu da Cidade. Amadora: Heska Portuguesa.
Planta do Novo Hospital de S. Joseph.  Na margem inferior tabela com remissas referenciadas por maiúsculas. Desenho a tinta da China.  Ass. Sarg.º Mor, Joseph Mont.º de Carvalho. Biblioteca Nacional de Lisboa. Fotografia, Estúdios Horácio Novais - CML  (1982), Exposição Lisboa e o Marquês de Pombal, Museu da Cidade. Amadora: Heska Portuguesa.

Eugénio dos Santos, autor do plano da Praça do Comércio, assim designada pelo Marquês de Pombal em homenagem à classe, desenvolveu-o em esquema aberto. Ao projecto inicial foi junto o projecto do alçado tipo dos edifícios que a emolduravam. Para estas edificações, Eugénio dos Santos propôs um modelo mais nobre, com dois andares de janelas rasgadas e duas fiadas intermédias de “mezaninos". Enriquece depois o conjunto com uma imponente arcada, dando maior beleza e imponência à harmoniosa praça. Pertence a Eugénio dos Santos a proposta dum arco triunfal no início da Rua Augusta, para o qual elaborou um esboço, substituído mais tarde por Mardel, que não foram construídos. São importantes os desenhos existentes na Academia de Belas- Artes, que representam a fachada norte da praça, e o que se guarda no Arquivo Histórico do Ministério da Habitação e Obras Públicas.


Aspecto da Frontaria da Praça do Comércio da parte do Arsenal, aproveitando grande parte da Torre ou Pavilhão da Casa da Índia, cuja frontaria é em tudo semelhante à que lhe corresponde no lado oposto, que deve fazer da frontaria da Alfandega e compreende também a bolsa do mesmo comércio. Desenho a tinta da China, aguarelado. Ass. Eugénio dos Santos e Carvalho, no canto superior esquerdo. A. H. M. H. e Obras Públicas. Fotografia de Horácio Novais - CML  (1982), Exposição Lisboa e o Marquês de Pombal, Museu da Cidade. Amadora: Heska Portuguesa.
Aspecto da Frontaria da Praça do Comércio que faz frente ao rio e compreende 3 ruas da parte do Rossio vem todas desembocar na referida Praça do Comércio. Desenho a tinta da China com aguada. Ass. Eugénio dos Santos e Carvalho e de Sebastião Joseph de Carvalho e Mello. Academia Nacional de Belas-Artes. Fotografia, Estúdios Horácio Novais - CML  (1982), Exposição Lisboa e o Marquês de Pombal, Museu da Cidade. Amadora: Heska Portuguesa.
Arco do meio da Praça do Comércio. Estudo a lápis e tinta da China, com aguada. S/ assinatura, 2ª metade do séc. XVIII. Museu da Cidade. Fotografia, Estúdios Horácio Novais - CML  (1982), Exposição Lisboa e o Marquês de Pombal, Museu da Cidade. Amadora: Heska Portuguesa.

Panorâmica da Praça do Comércio. O conjunto é Monumento Nacional. Considerada uma das mais belas praças da Europa, a Praça do Comércio, ou Terreiro do Paço, delineada pelo arquitecto Eugénio dos Santos sob a égide do Marquês de Pombal, resultou do projecto de reedificação da baixa pombalina após o terramoto de 1755. O chão manteve-se de terra batida até 1900. Recebeu a estátua equestre em 6 de Junho de 1775. A arborização fez-se em 1866. Em 1873, era concluído o Arco da Rua Augusta. Fotografia de Benoliel, Judah, 1890-1968. Arquivo Municipal de Lisboa.

Falecido Eugénio dos Santos em 1760, é Carlos Mardel que o vai substituir na reconstrução da cidade. O projecto inicial para a praça do Rossio foi realizado com base no esquema geral de Eugénio dos Santos, com algumas novidades como o uso de duplos telhados. Com a morte de Mardel, foram introduzidas alterações posteriormente a 1763.
 
Projecto no lado meridional da Praça do Rocio. Desenho a tinta da china. Ass. do Marquez de Pombal, no canto superior esquerdo. (Este projecto faz parte do Atlas com 70 plantas para a reconstrução da cidade, do Arquivo Histórico Municipal). Fotografia, Estúdio Horácio Novais - CML  (1982), Exposição Lisboa e o Marquês de Pombal, Museu da Cidade. Amadora: Heska Portuguesa.
Projecto do edifício do Senado da Câmara , e Depósito Público, na Rua Direita do Arsenal. Desenho aguarelado. Ass. Conde de Oeiras. A. H. M. H. e Obras Públicas. Fotografia, Estúdio Horácio Novais - CML  (1982), Exposição Lisboa e o Marquês de Pombal, Museu da Cidade. Amadora: Heska Portuguesa.
O plano pombalino para a reconstrução da cidade vai criar importantes inovações técnicas e desenvolver princípios urbanísticos e de higiene bem avançados para o tempo sendo de realçar os mais conhecidos:
 
1 – A uniformização das construções, permitindo a repetição dos modelos (molduras de portas e janelas, balaustres para as varandas…), que eram fabricados em grandes quantidades. O azulejo regressa ao padrão do séc. XVII para ser produzido em grandes quantidades.
2- A criação de condições de segurança contra os sismos e contra os fogos levou à invenção do guarda-fogos e da estrutura em madeira "gaiola", criada por Carlos Mardel.

3- As condições de salubridade melhoraram na “Baixa" lisboeta, onde a elevação dos terrenos, acabou com o inconveniente das inundações. As artérias ficaram mais espaçosas e arejadas. Por proposta de Manuel da Maia, o abastecimento de água à cidade foi facilitado pela construção de chafarizes nas zonas mais carenciadas.

4- A criação do  “Passeio Público”, um longo recinto ajardinado, oferecido por Pombal à população de Lisboa. Projectado por Reinaldo Manuel dos Santos foi construído a partir de 1764.

O Passeio Público de Lisboa, litografia de Legrand. Arquivo Municipal de Lisboa.
Passeio Público, pavilhão, lago e terraço da entrada norte.  Fotografia, Estúdios Mário Novais. Arquivo Municipal de Lisboa.


Saber mais:


Fontes:
CML  (1982), Exposição Lisboa e o Marquês de Pombal, Museu da Cidade. Amadora: Heska Portuguesa.
Vieira, Alice (1993), Esta Lisboa. Lisboa: Caminho, S.A.

4 comentários:

  1. Utilizei duas fotografias desta publicação com imagens dos projetos para o Arco da Rua Augusta no meu recentíssimo Blog http://sobrelx.blogspot.pt/ na publicação "Arco da Rua Augusta - Miradouro".
    Tive o cuidado de manter a legenda das fotografias e acrescentei como fonte das fotografias o seu blog.
    Agradeço desde já o seu contributo "voluntário"...
    Caso, assim o entenda, posso retirá-las.

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    1. Cara leitora, refere que mencionou o "comjeitoearte" como fonte das fotografias que publicou no seu blog. Penso ser essa a atitude correcta. Agradeço a divulgação e o seu interesse.

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  2. COMJEITOEARTE Uso algumas destas imagens, devidamente referida a fonte, para apresentação a Universidade Sénior, em aula de História da Arte.
    Muito obrigada Mary

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    1. Boa tarde Mary. Fique à vontade. Estou feliz por poder "ajudá-la" no seu trabalho.
      Felicidades.

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