terça-feira, 22 de novembro de 2011

Biografia do pintor Mário Eloy

O Meu Retrato , óleo sobre cartão, 1928  -  Colecção CAMJAP/FCG (Centro de Arte Moderna José de Azeredo perdigão - Fundação Calouste Gulbenkian) - Fotografia José Manuel Costa Alves
Mário Eloy de Jesus Pereira (1900-1951), nasceu a 15 de Março de 1900, em Algés. Em 1913, deixou o Liceu Passos Manuel e matriculou-se na Escola de Belas-Artes de Lisboa, que abandonou depois de dois anos, por lhe desagradar o ensino demasiado classicista. Adolescente curioso e inquieto, começava a demonstrar interesse pelo meio artístico. A sua formação foi a de um autodidacta, como aconteceu com Amadeo de Souza-Cardoso, Almada Negreiros, Carlos Botelho e outros. Entre 1915 e 1919, Mário frequentou o meio teatral, os cafés como o Martinho e A Brasileira, desenhando os seus companheiros de tertúlia.

Retrato de António Navarro, grafite sobre papel - Colecção CAMJAP/FCG
Em 1919, parte para Espanha, Madrid, fugindo a um emprego de bancário que o pai lhe tinha arranjado. No Museu do Prado, observou imagens que cimentaram a vocação que crescia dentro de si. Decidiu ser pintor, não para seguir as técnicas e conceitos que prevaleciam em Portugal, mas para procurar uma vida própria, uma carreira única e invulgar.

A pedido dos pais, regressa a Lisboa em 1922, onde apoiado por Augusto Pina, cenógrafo, amigo da família, trabalha no atelier do Teatro D. Maria II, onde exercitou as técnicas de desenho. No Politeama em 1923, estreia-se como actor na Companhia Amélia Rey Colaço e Robles Monteiro, na peça A Ribeirinha. Em 1923 pinta o retrato da mãe, Mathilde Eloy de Jesus Pereira.

Minha Mãe, óleo sobre tela, 1923 - Colecção CAMJAP/FCG - Fotografia José Manuel Costa Alves
O Arquitecto José Pacheco, óleo sobre tela, 1925 - Colecção CAMJAP/FCG - Fotografia José Manuel Costa Alves
A morte do pai abalou-o profundamente, só em 1924 expõe pela primeira vez juntamente com Alberto Cardoso, no Salão de Ilustração Portuguesa do jornal O Século, onde apresentou 25 óleos e 10 desenhos, retratos e paisagens algarvias. Participou em 1925 no I Salão de Outono da Sociedade Nacional de Belas-Artes (SNBA), nos seus trabalhos era notória a influência de Columbano e do seu mentor, Eduardo Viana. No mesmo ano a convite de António Ferro, director do Secretariado Nacional da Informação (SNI), pinta o pano de boca de cena do cinema Tivoli.

Sem titulo, óleo sobre madeira, 1927 - Colecção CAMJAP/FCG - Fotografia José Manuel Costa Alves
Aos vinte e cinco anos, Mário Eloy parte para Paris com o intuito de estudar a pintura de Cézanne, Gauguin, Van Gogh, Picasso, Matisse. O surrealismo era ainda um movimento predominantemente literário. Picasso criara  cenários “movíveis” para o ballet Mercure. Os surrealistas revoltaram-se, mas figuras como Poulenc, Aragon e Péret, contrariaram a crítica e aplaudiram as inovações de Picasso. Este tornou-se uma referência para Eloy. A vida para o pintor, não era fácil, sobrevivia da venda de retratos de pessoas conhecidas e dos cheques enviados pelo irmão. Acolhia-se onde podia, geralmente em ateliers, como o de Alberto Cardoso. Os exilados políticos que tinham saído de Portugal com a implantação da República, apoiaram-no. Olga Moraes Sarmento e Homem-Christo Filho, foram duas figuras que lhe abriram as portas e lhe facilitaram os contactos.

Sem Título (Família de Pierrot), grafite sobre papel, 1927 - Colecção CAMJAP/FCG - Fotografia José Manuel Costa Alves
Em 1927 expõe em conjunto com a artista russa Hélène Puciatieka e com o austríaco Erwin Singer, em Paris, na galeria Au Sacre du Printemps, com pompa e circunstância. A exposição foi repetida na galeria Chez Fast, a nível individual. Em Paris foi muito admirado por Van Dongen, em Lisboa foi considerado “ousado” e “vanguardista”,

Neste ano viaja para Berlim, onde conhece o pintor alemão Oskar Kokoschka mestre do expressionismo, com o qual Eloy se identifica completamente,  reflectindo-se esta influência no seu trabalho. Expõe individualmente na Galerie A. E. Utsch onde apresenta 30 obras com cenas de Lisboa, apreciadas pelo pintor Georges Dietrich, que o comparava a Picasso. Eloy foi escolhido para a Sociedade de Artistas Plásticos de Berlim, sendo o único estrangeiro inscrito. 
Retrato da bailarina russa Irmgard Albrusschat, tinta-da-china e grafite sobre papel, 1931 - Colecção CAMJAP/FCG
 
Conhece Theodora Laura Severin em 1928, desta ligação, nasce Mário António Horslt Eloy de Jesus Pereira a 12 de Janeiro de 1929. A 31 de Janeiro, casa com Theodora (Dora).
Envia para Lisboa algumas das suas obras, é realizada uma exposição no Sindicato dos Profissionais de Imprensa (1928). Colabora na revista Der Querschnitt, onde Picasso, Jean Cocteau e Grosz, foram colaboradores. 

Auto-Retrato com a Família, grafite e aguada sobre papel, 1930-1931 - Colecção Museu do Chiado - Fotografia José Pessoa - IPM
Auto-Retrato, grafite sobre papel, 1930 - Colecção CAMJAP/FCG - Fotografia José Pessoa
Auto-Retrato, desenho, 1930 - Museu do Chiado/IMC - Fotografia José Pessoa
As idas e vindas entre Berlim e Lisboa eram constantes. Em 1932 regressa a Portugal, sózinho, instala-se na casa materna, recupera os hábitos, as tertúlias, os encontros nos cafés, reata uma antiga relação com Beatriz Costa.

Durante os anos 30, Mário Eloy tem um domínio absoluto das suas capacidades artísticas, o que é visível através dos seus notáveis desenhos. Ao longo dos anos, ele pinta e desenha temas que estão relacionados com a cidade: as “varinas”, o casario, o Tejo, os pobres, os pedintes… 

Sem título, grafite sobre papel - Colecção CAMJAP/FCG
Estudo para a pintura, A Varina e o Menino, grafite sobre papel, 1927 - Colecção CAMJAP/FCG
Sem título, grafite sobre papel, 1932 - Colecção CAMJAP/FCG
O quadro Lisboa, encomendado por António Ferro, ganha o prémio Souza-Cardoso, na 1ª Exposição de Arte Moderna do Secretariado de Propaganda Nacional.

O quadro Lissabon (1930-31) é a imagem da recordação da cidade, com um par que dança num pátio, o casario de Alfama, o Tejo, barcos a navegar. 
Em “Amor” (1935) a cena passa-se também em Lisboa, pela janela vê-se a torre da Igreja das Chagas. O cabelo escuro e curto da mulher, o burrico que se vê no exterior, identificam a figura como Beatriz Costa, por quem Eloy teve uma grande paixão.

Lissabon, óleo sobre tela, 1930-1931 - Colecção CAMJAP/FCG - Fotografia José Manuel Costa Alves
Amor, óleo sobre tela, 1935 - Colecção particular - Galeria 111
A partir de 1938, a temática de Eloy modifica-se e passa a mostrar um lado catastrófico, que é acentuado depois de lhe ser  diagnosticada a doença de Huntington ou Coreia, em 1940. As imagens representam monstros, facas, desenhos a negro, composições com pés e mãos desmenbrados…

Dora e o filho fugiram para a Checoslováquia e daí para a Holanda, após a invasão do território checo pelas tropas alemãs.

Eloy estava desesperado. O trabalho que o pintor produzia era pouco e quando o fazia era parta ganhar dinheiro. Habitava em parte incerta, umas vezes em casa de amigos, outras na de familiares e por vezes num quartinho do Teatro Nacional. Em 1945, é internado no Hospital do Telhal, em estado grave.
 
Komposição - Natureza Morta, óleo sobre madeira, 1934 - Colecção CAMJAP/FCG - Fotografia José Manuel Costa Alves
Sem título, tinta-da-china sobre papel, 1936 - Colecção CAMJAP/FCG
Sem título (Três composições), tinta-da-china sobre papel - Colecção CAMJAP/FCG
Sem título, tinta-da-china sobre papel, 1940 - Colecção CAMJAP/FCG
Foi um dos artistas mais importantes da primeira metade do século XX. Atestam-no a representação da sua obra em colecções como a do Museu do Chiado, Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian ou na Fundação da Casa de Serralves, a par das mais prestigiadas colecções particulares.
Morreu a 5 de Setembro de 1951, mal se apercebendo de que em 1950, as obras Auto-Retrato e Jeune Homme, tinham sido escolhidas para a Bienal de Veneza. Em 1953, esteve representado na II Bienal do Museu de Arte de S. Paulo, Brasil. No ano de 1958, realizou-se uma exposição "Retrospectiva da Obra do Pintor Mário Eloy", em Lisboa e no Porto. Em 1978, A Fundação Calouste Gulbenkian em Londres, realiza uma exposição sobre a sua obra. No ano de 1996, o Museu do Chiado faz uma Exposição Retrospectiva da obra do pintor. 

Auto-Retrato, óleo sobre tela, 1939 - Depósito do Museu do Chiado - Fotografia José Pessoa
No Camarote (inacabado), óleo sobre tela, 1945 - Colecção CAMJAP/FCG - Fotografia José Manuel Costa Alves.
Fontes:

Vasconcelos, Helena (2005), Mário Eloy. Camiho: Lisboa
Tainha, Rita, Pensar em Arte. Estúdio DidácticO




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