quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Estátua Equestre de D. José I

Estátua equestre de D. José I (1775). Praça do Comércio, Lisboa - Foto: Lisbon and its surroundings. Lisboa: Colibri
A estátua equestre de D. José I (1750-1777), está ligada à reconstrução da cidade de Lisboa, deixada em ruínas pelo Terramoto de 1755. A vontade dos dirigentes da época, empenhados na resolução dos graves problemas causados pelo Terramoto, sob o governo do Marquês de Pombal (1699-1782), manifestava-se pela glorificação do Senhor Rei Fidelíssimo D. José I. A reconstrução da cidade foi só por si, uma obra que mereceu a admiração de todos, pelo esforço, empenho e eficácia com que foi conduzida. 

Projecto da estátua equestre de D. José I (de frente). Desenho aguarelado a preto de  Eugénio dos Santos e Carvalho. Academia Nacional de Belas Artes - Câmara Municipal de Lisboa (1982), Lisboa e o Marquês de Pombal, Museu da Cidade. Amadora: Heska. Foto de Horácio Novais
Projecto da estátua equestre de D. José I (de lado). Desenho aguarelado a preto de  Eugénio dos Santos e Carvalho. Academia Nacional de Belas Artes - Câmara Municipal de Lisboa (1982), Lisboa e o Marquês de Pombal, Museu da Cidade. Amadora: Heska. Foto de Horácio Novais.
Integrada nesta obra, foi adjudicada a Joaquim Machado de Castro (1731-1822), um escultor da escola de Mafra, a construção da estátua equestre de D. José, depois de aberto um concurso internacional em 1770. Neste concurso foram apresentados os desenhos iniciais de Eugénio dos Santos (1711-1760), inseridos nos seus projectos para o Terreiro do Paço, onde se encontrava já demarcado, na praça, o local de implantação do futuro monumento - o que testemunha a intenção de perpetuar a memória de D. José como o reedificador da capital.

Real Praça do Comércio, parte do edifício da Alfândega e do Arsenal da Marinha ( no centro da praça está demarcado o local do futuro monumento a D. José I). Planta desenhada a tinta-da-china com aguada. A. H. M. H. e Obras Públicas - Câmara Municipal de Lisboa (1982), Lisboa e o Marquês de Pombal, Museu da Cidade. Amadora: Heska. Foto de Horácio Novais.
O projecto de Eugénio dos Santos venceu e Machado de Castro seguiu o modelo. Posteriormente, introduziu algumas alterações ao projecto inicial, mantendo o aspecto geral. O escultor submeteu o primeiro modelo da estátua, com 30cm de altura, à apreciação real em Março de 1771.  
O soberano apresenta-se vestido à romana, com elmo enterrado na cabeça, constituindo rei e cavalo, um elegante e harmonioso conjunto, pela elegância do cavalo e o porte do cavaleiro, que o qualifica como uma das mais belas esculturas.
Praça do Comércio da cidade de Lisboa, gravura colorida, Gaspar Frois Machado (atribuído). Séc. XVIII (2ª metade). Vista imaginária da Praça do Comércio tirada do rio, inspirada no projecto de Eugénio dos Santos. A centralidade formal e simbólica da praça é dada pela Estátua Equestre, remetendo para o modelo das Praças Reais europeias - Museu da Cidade
Na altura, foi atribuída grande importância ao trabalho de fundição da estátua, a primeira a ser fundida em bronze (38564 quilos derretidos em 28 horas), de um jacto, constituindo uma só peça, no Arsenal Real do Exército, sobre a direcção do brigadeiro Bartolomeu da Costa (1731-1801) Os trabalhos de fundição terminaram em 15 de Outubro de 1774. As técnicas militares de fundição foram adaptadas à arte da escultura, constituindo uma inovação. 

Modelo para a estátua equestre de D. José I, terracota. Joaquim Machado de Castro, 1771 - Museu da Cidade
Os grupos escultóricos que compõem as faces laterais do plinto, representam o Triunfo - reconhece-se pelo transporte da palma – conduzindo um cavalo impetuoso, enquanto a Fama – reconhece-se pelo uso da trombeta - conduz um elefante. Na face principal do plinto, voltada ao Tejo, aparecem para além das armas reais, o medalhão, em bronze, com a efígie do Marquês de Pombal. Para o medalhão da parte posterior do plinto, deixado incompleto por Eugénio dos Santos, idealizou Machado de Castro, um baixo-relevo, apresentando “A generosidade do Rei a erguer Lisboa depois do Terramoto de 1755".
O monumento com 14 metros de altura, ostenta a estátua equestre em bronze, sobre um plinto em pedra de lioz - da zona de Pêro Pinheiro - , da autoria de Reinaldo Manuel dos Santos (1731-1791).

Grupo escultórico da estátua equestre de D. José I, representa O Triunfo. Foto de Armando Serôdio - Arquivo Municipal de Lisboa
Grupo escultórico da estátua equestre de D. José I, representa A Fama. Foto de Armando Serôdio - Arquivo Municipal de Lisboa
A estátua, que demorou três dias e meio a chegar à Praça do Comércio, foi colocada no plinto, pronto para a receber, a 27 de Maio de 1775.
Por ocasião do aniversário de D. José I (6 de Junho de 1775), apesar da saúde do monarca já inspirar sérios cuidados, a inauguração da estátua equestre, nos dias 6, 7 e 8 de Junho de 1775, foi motivo para grandiosas e magníficas festas. Na tarde do dia 6 de Junho, o monumento que estava coberto por uma cortina de seda carmesim, foi descerrado pelo Marquês de Pombal. À noite, houve iluminação da Praça do Comércio, feita por mais de 28 000 lumes e um banquete, que teve lugar na Sala do Selo da Alfândega de Lisboa. Para o banquete, foi encomendado por D. Pedro José de Menezes (1713-1799), Marquês de Marialva, um serviço de jantar de Porcelana da China, decorado com a Estátua Equestre, conforme um desenho da autoria de Eugénio dos Santos.

Porcelana da China. Companhia das Índias, c. 1775. Reinado de Qialong (1736-1795). Prato raso, moldado, em porcelana branca, com decoração de esmaltes opacos da “família rosa” nas cores vermelho, verde, laranja, dourado e tinta da china. No fundo, a imagem da Estátua Equestre - Museu da Cidade
Porcelana da China. Companhia das Índias, c. 1775. Reinado de Qialong (1736-1795). Travessa decorada no fundo com a imagem da Estátua Equestre - Museu da Cidade
Nos dias 7 e 8, as surpreendentes festas realizadas pelo senado e pelo povo ( Casa do Vinte e Quatro) na Praça do Comércio, contaram com um desfile de oito carros alegóricos, danças, musicas e fogo de artifício.
O monarca, associando-se à alegria do público, decretou amnistia geral, excepto para os réus do estado por delitos que não fossem susceptíveis de perdão.
A Estátua Equestre foi considerada uma obra ao nível da melhor escultura que se realizava a nível internacional, motivando a produção de gravuras que circularam pelo mundo. 

Descripção analytica da execução da estatua equestre erigida em Lisboa a' glória do Senhor Rei Fidelissimo D. José I, - Biblioteca Nacional de Portugal
O escultor Machado de Castro escreveu a obra - Descripção analytica da execução da estatua equestre erigida em Lisboa a' glória do Senhor Rei Fidelissimo D. José I, levada à estampa pela Impressam Régia em 1810.

Estátua equestre de D. José I (1775). Praça do Comércio, Lisboa - Foto: Lisbon and its surroundings. Lisboa: Colibri

Por lapso escrevi "Reinaldo Qialong" em vez de de "Reinado de Qialong". A informação foi alterada no dia 1 de Junho de 2014.



Fontes:
Câmara Municipal de Lisboa (1982), Lisboa e o Marquês de Pombal, Museu da Cidade. Amadora: Heska.
Ferreira, R. Laborde e Vieira, V. M. Lopes (1985), Estatuária de Lisboa. Lisboa: Amigos do Livro

2 comentários:

  1. Sugiro que altere a informação e onde diz 'Reinaldo Qialong' passe a dizer 'reinado Qialong'.
    boa tarde

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