Camões, painel de azulejos, Júlio Pomar, 1926 - Museu Nacional do Azulejo |
Dia 10 de Junho (aqui)
Luís Vaz de Camões, gravura. Fotografia de Estúdio Mário Novais - Arquivo Municipal de Lisboa |
Luís de Camões ou Luís Vaz de Camões, nasceu em Lisboa no segundo semestre de 1527?, era filho de Simão Vaz de Camões e de Ana de Macedo ou Ana de Sá. O seu trisavô, Vasco Pires de Camões, foi obrigado a abandonar Portugal, quando se pôs do lado de D. Leonor Teles, contra o Mestre de Avis. A sua família ficou em Portugal. Consta que o pai do poeta, Simão Vaz de Camões, naufragou perto de Goa, conseguindo salvar-se das ondas, foi morrer à cidade. Com a morte do pai, Camões fica a viver com a sua mãe, na Mouraria, em Lisboa, de uma forma bastante modesta. Mudam-se para Coimbra, onde viviam alguns parentes. Com o auxílio destes, supõe-se que o poeta tenha frequentado a Universidade e um Curso de Artes em Santa Cruz, até 1544, data em que é encerrado o Curso. Aí teria adquirido profundíssimos conhecimentos de línguas e cultura clássica.
Camões Salvando "Os Lusíadas", pintura, óleo sobre tela, de Francisco José de Resende, 1867 - Museu do Chiado-Museu Nacional de Arte Contemporânea |
Camões na Gruta de Macau, pintura, óleo sobre tela, de Francisco Augusto Metrass, 1853 - Museu do Chiado-Museu Nacional de Arte Contemporânea |
Por volta de 1542 a 1545, troca Coimbra por Lisboa, aqui deixou-se seduzir pela figura gentil da sua prima Isabel Tavares e a ela dedica grande número de redondilhas. Apesar da pobreza de Camões, a sua erudição superior e o seu excelente valor como poeta, constituíram razões de sobra para o bom acolhimento pelos nomes da nobreza de Portugal e a nomeação como cavaleiro-fidalgo. Tinha na altura pouco mais de vinte anos. A grande paixão da sua vida foi a Infanta D. Maria, filha de D. Manuel I, no entender de J. M. Rodrigues. Estes amores sofreram a oposição violenta, pelo que Camões foi forçado ao desterro no Ribatejo, por volta de 1546 ou 1547. Parte depois para Ceuta (1545 a 1548?), combatendo as terríveis hostes dos mouros. Por desastre ou combatendo o inimigo, Camões ficou cego de um olho. Depois de dois anos no Norte de África regressou a Lisboa, no ano de 1549.
Naufrágio de Camões, serigrafia sobre papel, de José de Guimarães, 1983 - Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian |
Camões lendo "Os Lusíadas" aos frades de S. Domingos, óleo sobre tela, de António Teixeira Carneiro Júnior, 1926 - Museu do Chiado-Museu Nacional de Arte Contemporânea |
O seu temperamento irreverente, lança-o numa vida de boémia, desregrada e arruaceira, vale-lhe o alcunha de “Trinca-fortes”. Em resultado dessa vida, recolhe sob prisão ao Tronco da cidade, em 16 de Junho de 1552, dia de "Corpora Christi", onde ficará perto de um ano acusado de agressão contra Gonçalo de Borges, oficial do Paço. Em 7 de Março de 1553, o monarca (D. João III) perdoa a Camões, por meio de uma carta de perdão, dizendo que o poeta iria servir o monarca nesse mesmo ano, à Índia. Parte Camões na nau São Bento, das frotas de Fernão Álvares Cabral, largando do Tejo a 26 de Março de 1553. Aportou a Goa no mês de Setembro de 1553. Parte numa expedição para o Malabar, contra o rei do Chembe (Novembro de 1553). Em Fevereiro de 1554, realiza serviço de policiamento, desde o estreito de Meca até ao outro extremo do Mar Vermelho. Consta que foi nomeado Provedor-mor dos Defuntos e Ausentes, desempenhando este cargo na cidade de Macau em 1556.
Luís de Camões, escultura de Simões de Almeida. Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro - Fotografia de António Duarte, Arquivo Municipal de Lisboa |
Numa viagem entre Macau e Goa, em 1560, sofre um naufrágio nos baixos de Pracel, perto da foz do rio Mecom, perdendo todos os seus bens, assim como a escrava chinesa, de nome Dinamene, inspiradora dos seus mais belos sonetos. Ter-se-ia salvo o manuscrito “Os Lusíadas”, que o poeta trouxe consigo da nau que se afundou, a nado, até à costa. Depois de 16 anos na Índia, Camões ruma a Moçambique (1567), atraído pelo capitão Pero Barreto Rolim. Por desavenças, corta relações com o capitão, passa a viver de esmolas e continua a aperfeiçoar “Os Lusíadas” para impressão. De regresso ao reino (1569), encontra alguns amigos vindos de Goa, entre eles, Diogo do Couto, o grande cronista das coisas do Oriente.
Luís de Camões, escultura em granito de Euclides Vaz. Biblioteca Nacional - Fotografia de Neves Águas, Arquivo Municipal de Lisboa |
Chega a Lisboa em fins de Maio ou Junho de 1570. Sem recursos, dá os primeiros passos para a impressão do seu poema heróico. O poeta alcança o alvará de privilégio para a publicação do livro, em 24 de Setembro de 1571, devendo o original ser presente à censura do Santo Ofício. O censor d’ "Os Lusíadas”, Fr. Bartolomeu Ferreira, entende ser um livro digno de se imprimir e o autor muito engenhoso e de muita erudição nas ciências humanas. A publicação d’ “Os Lusiadas” no ano de 1572, acalma o poeta das suas dificuldades monetárias, a pensão concedida pelo monarca (D. Sebastião I), foi de 15.000 réis. Camões passou os últimos tempos da sua vida em grandes dificuldades, extremando pela miséria. Faleceu vítima de peste, na sua casa da Calçada de Santana, no dia 10 de Junho de 1580, em Lisboa.
Prédio onde segundo a tradição morou e faleceu Luís de Camões, na Calçada de Santana, século XIX. - Lucas, João de Almeida (1969), Sonetos de Luís de Camões. Lisboa: Livraria Clássica Editora |
Casa de Luís de Camões em 1580, desenho - Fotografia de Armando Serôdio, Arquivo Municipal de Lisboa |
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo amor?
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Ah! minha Dinamene! assim deixaste
quem nunca pôde de querer-te!
Que já, Ninfa gentil, não possa ver-te!
Que tão veloz a vida desprezaste!
Como por tempo eterno te apartaste
de quem tão longe andava de perder-te?
Puderam essas águas defender-te
que não visses quem tanto magoaste?
Nem somente falar-te a dura morte
me deixou, que apressada o negro manto
lançar sobre os teus olhos consentiste!
Oh mar! oh céu! oh minha escura sorte!
Qual vida perderei que valha tanto,
se inda tenho por pouco o viver triste?
Fonte: Lucas, João de Almeida (1969), Sonetos de Luís de Camões. Lisboa: Livraria Clássica Editora
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