quinta-feira, 25 de julho de 2013

Louça de Caldas da Rainha - Rafael Bordalo Pinheiro e Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro


Jarra com tampa, moldada e modelada em barro vermelho, 1888. Esta peça foi executada por Rafael Bordalo Pinheiro (sentado numa asa a autocaricatura do artista), para oferecer ao Dr. Feijão, que o tratou de um antraz em 1888. Fabrica de Faianças das Caldas da Rainha- Museu da Cerâmica

As numerosas fábricas de faianças, transformaram a vila de Caldas da Rainha, num dos principais centros de produção cerâmica de Portugal. Em meados do século XIX, a notável produção de cerâmica artística, era inspirada na obra de Bernard Palissy (1510-1589) e Renascença. Entre os seguidores, destaca-se o exímio ceramista Manuel Cipriano Gomes Mafra (1829-1905), considerado o "Palissy das Caldas", aqui.

  
Bule de tipo caricatural, peça moldada e modelada, 1897-1906. Rafael Bordalo Pinheiro. Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha - Museu da Cerâmica


FFCR - Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha. Iniciais entrelaçadas por uma serpente; 11 - número referente ao operário da fábrica responsável pela produção da peça. Gravações na base da peça.


O mais notável criador da história da cerâmica caldense, Rafael Augusto Bordalo Pinheiro (1846-1905), nasceu em Lisboa, numa família de artistas ilustres. Com cerca de onze anos de idade, Rafael recebeu as primeiras aulas de modelagem na oficina de seu pai. Em 1860, inscreveu-se no Conservatório e posteriormente matriculou-se na Academia de Belas Artes. Aos vinte anos (1866), casou com Elvira Ferreira de Almeida, e no ano seguinte nasceu o seu filho Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro (1867-1920). 
A popular figura de Zé Povinho, criada por Rafael Bordalo Pinheiro - personagem satírica de crítica social, adoptada como personificação nacional portuguesa - , surgiu pela primeira vez no periódico A Lanterna Mágica, a 12 de Junho de 1875. Nesse mesmo ano, Rafael partiu para o Brasil, colaborando em jornais brasileiros e portugueses.


Bule com caricatura de Rafael Bordalo Pinheiro e Elvira Bordalo Pinheiro, faiança, 1882 - Rafael Bordalo Pinheiro. Museu Bordalo Pinheiro, Lisboa

Prato com lagosta e folha de couve num cesto, faiança, 1894.Rafael Bordalo Pinheiro - Museu Bordalo Pinheiro, Lisboa
Floreira, peça rodada e modelada em barro vermelho, 1898. Rafael Bordalo Pinheiro. Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha - Museu da Cerâmica
Em 1879, regressou a Lisboa e lançou O António Maria (1879-1899), dando continuidade à sátira política. A sua última revista, Paródia, foi estreada em 1900. Ao longo da sua vida, publicou jornais, revistas, folhetos e livros que continham sátira política e caricaturas.  Rafael Bordalo Pinheiro iniciou-se na produção cerâmica, depois de uma vasta experiência gráfica. Na Fábrica de Sacavém e na oficina de Francisco Gomes Avelar (act. 1875-1897), Rafael principia experiências com argilas e esmaltes. Entretanto, o seu irmão Feliciano Bordalo Pinheiro (1847-1905), convence-o a criarem uma fábrica de cerâmica.

 







Perfumador árabe, faiança, 1896. Esta peça foi dedicada ao conselheiro Vilhena, administrador do Banco de Portugal, como prova de agradecimento, por ter adiado a cobrança coersiva das dívidas da fábrica de faianças. Rafael Bordalo Pinheiro. - Museu Bordalo Pinheiro


 
Bilha, faiança modelada e moldada, 1896. Decoração representando uma serenata de um cavalheiro a uma dama, e um aldeão espiando. Rafael Bordalo Pinheiro. Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha - Museu da Cerâmica

 
 Jarra, rodada e modelada em barro vermelho, 1893. Peça de inspiração Arte Nova. Rafael Bordalo Pinheiro. Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha - Museu da Cerâmica

No ano de 1884, Feliciano e Rafael, criam a Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha, da qual Bordalo Pinheiro foi director técnico e artístico durante cerca de 20 anos. A fábrica dispunha-se a manufacturar materiais de construção (tijolos, telhas e azulejos), louça artística e louça comum, organizando-se de acordo com os três sectores de produção. 
No decorrer de 1884, os dois irmãos realizam viagens de estudo e trabalho a industrias de cerâmica em Inglaterra, França e Bélgica.
Em Junho de 1885, a segunda fase da fábrica foi concluída, permitindo a produção de uma linha completa de louça decorativa.

Garrafa, archeiro da Casa-Real, peça modelada e moldada em barro vermelho, 1896. Rafael Bordalo Pinheiro. Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha - Museu da Cerâmica


FFCR - Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha. Iniciais entrelaçadas por uma serpente; 1896 - ano de produção da peça; 21 - número referente ao operário da fábrica responsável pela produção da peça. Gravações na base da peça.


Estatueta, figura de movimento, peça moldada e modelada em barro vermelho, 1903. Representa um padre segurando um lenço vermelho e rapé. Rafael Bordalo Pinheiro. Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha - Museu da Cerâmica
 Caixa "Toma", faiança 1904. Rafael Bordalo Pinheiro. Museu Bordalo Pinheiro, Lisboa.

No ano seguinte (1886), a rainha D. Maria Pia (1847-1911) e o ministro Emídio Navarro (1844-1905), visitam a fábrica das Caldas da Rainha. O funcionamento simultâneo como fábrica-escola, foi reconhecido pelo Governo a partir de 1887. Bordalo criou todas as condições para que os operários pudessem reproduzir na totalidade as várias peças. Nesse ano, iniciou-se a produção de louça decorativa de inspiração naturalista. Em 1888, Rafael instalou-se com a sua família nas Caldas da Rainha.

O sucesso da exposição no Atneu Comercial do Porto, em 1889, não valeu para salvar a fábrica das dificuldades económicas em que se encontrava. A concessão de um empréstimo pelo Governo Português, evitou a falência e permitiu apresentar diversas peças na Exposição Universal de Paris (1889). O sucesso foi enorme: a Fábrica de Faianças recebeu a medalha de ouro e a medalha de prata na Exposição de Faianças, Rafael Bordalo Pinheiro, recebeu o Grau de Cavaleiro da Legião de Honra do governo francês.

 

Painel de azulejos com borboletas e espiga de trigo, barro vermelho moldado, 1905. Rafael Bordalo Pinheiro. Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha - Museu da Cerâmica

Painel de azulejos, barro vermelho moldado, 1893-1905. Inspiração na produção hispano mourisca do século XVI. Rafael Bordalo Pinheiro. Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha - Museu da Cerâmica





Painel de azulejos, barro vermelho moldado, 1893-1905. Gafanhotos sobre espigas de trigo. Cercadura com óvulos de inspiração renascentista. Rafael Bordalo Pinheiro. Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha - Museu da Cerâmica

Rafael produziu um número surpreendente de obras cuja diversidade de esmaltes coloridos, modelagem invulgar, profundidade de cor e esboço primoroso lhe trouxeram notoriedade. As suas peças tiveram influência nos estilos rocaille ou renascença, estilo Palissy - sapos, cobras, répteis, folhagens, fauna e flora locais - estilo Manuelino, iniciado durante o reinado de D. Manuel I (1495-1521) - conchas, peixes, corais, âncoras, cordas, redes e instrumentos de navegação. A cerâmica de Bordalo foi também estimulada pela onda francesa Art Nouveau, pelo orientalismo e pelo exótico. Projectou e executou magníficos modelos de azulejos, considerados dos melhores em Portugal. No período entre 1889-1905, Rafael B. Pinheiro criou muitas das suas melhores obras, como a Talha Manuelina, adquirida pelo rei D. Carlos (1863-1908) em 1893. A figura tridimensional do Zé Povinho, fazendo o manguito, popularizou-se com a cerâmica da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha, a partir do final do século XIX.



Talha Manuelina, faiança, 1892/3. Peça marcada pelo revivalismo do estilo Manuelino - Rafael Bordalo Pinheiro. Museu Bordalo Pinheiro, Lisboa.
 

Jarra Adriano Coelho, faiança, s.d. Peça com influência de estilo Rocaille. Rafael Bordalo Pinheiro - Museu Bordalo Pinheiro, Lisboa.



Candeeiro Justino Guedes, faiança, 1898. Peça com influência de estilo Renascença e azulejos mudéjares. Rafael Bordalo Pinheiro - Museu Bordalo Pinheiro, Lisboa.

Entre 1888 e 1904, a fábrica recebeu medalhas de ouro em exposições no Porto (1888), Paris (1889), Madrid (1892), Antuérpia (1894), Porto (1895) e Exposição Universal de St. Louis, EUA (1904). 
Rafael Bordalo Pinheiro visita a Exposição Universal de Paris, com o filho Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro, em 1900. Nesse mesmo ano, transferiu a direcção total da fábrica para o seu filho.  Em 1908, depois da morte do pai, Manuel Gustavo fundou uma fábrica em outro local, denominada inicialmente São Rafael, e mais tarde, Fábrica Bordalo Pinheiro, Lda. As peças produzidas, caracterizaram-se pela aliança entre os modelos tradicionais e as formas modernas da corrente Arte Nova. Às suas peças associa-se a riqueza artística e cultural, que irá resultar na geometrização das formas.
 

Jarra decorada com folhas de plátano, peça moldada e modelada em barro vermelho, 1901 (altura: 1250cm; largura: 74cm; comprimento: 75cm). Esta peça está inserida na fase bordalina de onde saiu a Talha Manuelina. Rafael Bordalo Pinheiro. Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha - Museu da Cerâmica

Prato, peça rodada, modelada e moldada em barro vermelho, 1905. Rafael Bordalo Pinheiro. Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha - Museu da Cerâmica

Jarra, peça modelada e moldada em barro branco, 1900. Rafael Bordalo Pinheiro. Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha - Museu da Cerâmica

Em 1922, a casa de Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro foi adquirida, junto com os moldes originais de fábrica. Os novos empresários ergueram uma outra fábrica, chamada de Faianças Bordalo Pinheiro. Na antiga casa de Manuel Gustavo foi criada a  Casa Museu de S. Rafael Bordalo. O acervo da Casa Museu é constituído sobretudo por cerâmica produzida ao longo dos anos na Fábrica Bordalo Pinheiro, contendo originais e cópias de peças desenhadas e executadas pelo artista Rafael Bordalo Pinheiro. O Museu Rafael Bordalo Pinheiro, em Lisboa, foi dedicado à memória deste grande ceramista. Abriu ao público em 1916.


Jarra, peça moldada e modelada em barro vermelho vidrado, 1908. Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro. Fábrica Bordalo Pinheiro - Museu da Cerâmica

BORDALLO PINHEIRO PORTUGAL - inserido num circulo com uma rã ao centro. 1901 / 21. Marca gravada na pasta no reverso da base.

Jarra, peça moldada em barro vermelho, 1908. Manuel Gustavo Bordalo pinheiro Fábrica Bordalo Pinheiro - Museu da Cerâmica

Bordalo Pinheiro Portugal, marca gravada na pasta

Grupo escultórico "Milagre da Bilha", peça moldada e modelada em barro branco e vermelho, 1912. Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro. Fábrica Bordalo Pinheiro - Museu da Cerâmica


Fontes:

http://www.bordallopinheiro.pt 
http://www.cm-caldas-rainha.pt/portal/page/portal/PORTAL_MCR/VISITANTE
http://www.museubordalopinheiro.pt/0201.htm
http://www.palissy.com/NEWhistory.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Rafael_Bordalo_Pinheiro
http://www.matriznet.dgpc.pt/MatrizNet/Entidades/EntidadesConsultar.aspx?IdReg=40510


4 comentários:

  1. Parabens.
    Gostaria de saber mais sobre a fábrica de Francisco Gomes de Avellar nas Caldas e onde se encontram peças feitas por ele e por Bordalo nesta Fábrica.

    Ana Arez - anamariaarez@ gmail.com

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Estimada leitora, agradeço o seu interesse e apreço!
      Sugiro-lhe o livro “Marcas da Cerâmica das Caldas” de Guilhermina Costa e Marta Pereira, apresentado no Museu da Cerâmica, nas Caldas, em 2012.
      Este museu poderá fornecer-lhe informação sobre a obra que referi ou outras relacionadas com a cerâmica.
      Saudações!

      Eliminar