segunda-feira, 15 de abril de 2013

No Dia do Desenhador relembro Almada Negreiros

Almada Negreiros no Café Tavares, em 1923. Sentados na 1.ª fila: Tomás Teran (pianista), Mademoiselle Perez, Madame Teran, Paul Kochanski (violinista). De pé: Mário Duarte, José de Almada Negreiros e Garcia Pérez. Almoço oferecido no Café Tavares (Lisboa) a Kochanski e Teran - Opsis  

No Dia do Desenhador, relembro José Sobral de Almada Negreiros como um dos criadores, responsável pela introdução do modernismo em Portugal. 


Auto-retrato, desenho, 1926 - França,José Augusto (1974), Almada o Português sem Mestre. Lisboa: Estúdios Cor
O desenhador José Sobral de Almada Negreiros, apareceu pela primeira vez em público assinando uma anedota ilustrada, na revista humorística de caricaturas  “A Sátira” (Lisboa) de 1 de Junho de 1911. No ano seguinte, colaborou em “A Rajada” (Coimbra), “A Manhã”, “A Bomba", ambos do Porto, “A Lucta” e  “A Paródia”, de Lisboa, entre outros. 

 
"A Sátira", revista humorística de caricaturas nº 4, de 1 de Junho de 1911 - Hemeroteca Digital
Cena Império, desenho em "A Rajada", série I, nº4,  de Junho de 1912 - Biblioteca Geral Digital

Nesse ano de 1912, surge um desenho que se abre para horizontes bem diferentes, prenunciando o que futuramente definirá a arte de Almada. O nº 4 de “A Rajada” (Coimbra) inclui uma cena “Império”. Um par em namoro: “Sempre galanteador”, diz ela; “É a minha profissão", responde ele. As duas figuras dialogantes são representadas numa forma contínua, em que as cabeças unidas, os braços esticados, as linhas convergentes do guarda-sol e da bengala e o balão da saia rodada, se integram num espaço cénico completado ao fundo por uma balaustrada. Este desenho, que nada tem a ver com a sua primeira ilustração publicada em “A Sátira”, deixa bem visível apenas a forma do par, renovada e hodierna, no contexto da arte portuguesa. No variado ano de 1912, a participação na Primeira Exposição do Grupo de Humoristas Portugueses, deu o primeiro grande impulso à carreira de Almada.

Desenho na primeira página do Diário de Lisboa, a 17 de Junho de 1921. Título "Alto de Santa Catarina" e a legenda "Se o empréstimo vem da América deve entrar por aqui" - CAM, Fundação Calouste Gulbenkian
Arlequim, desenho em "Contemporânea" nº 9, Março de 1923 - Hemeroteca Digital
Arlequim sentado numa mesa de café, desenho, 1922 - França,José Augusto (1974), Almada o Português sem Mestre. Lisboa: Estúdios Cor


Contorcionista, desenho em "Contemporânea" nº 7, Janeiro de 1923 - Hemeroteca Digital

Por volta de 1915, Almada realiza diversos desenhos sobre Pierrots e Arlequins. O artista desenha perfeitamente Pierrot, em que tudo é branco e irreal, e Arlequim, com maillot de “37 mil cores”, ajustado ao corpo, revelando a inquietação e o frenesim. Pierrot um idealista e Arlequim um materialista. Na obra de Almada, têm vida mundana e lisboeta; são figuras de teatro, de baile, de circo. O Arlequim - tema e modelo que vinha dos anos 10 - jogos de circo, bonecos ou fantoches de saltimbancos de feira, serão uma constante na obra artística e literária de Almada. Em 1922, Almada aparece com um novo Arlequim, sentado numa cadeira a uma mesa de café, com a cabeça apoiada numa mão e a outra abrindo um livro. A expressão da figura e o que ela faz são uma inovação. No desenho existem deformações de planos que vêem directamente do cubismo.   

Auto-retrato, desenho, 1940 - França,José Augusto (1974), Almada o Português sem Mestre. Lisboa: Estúdios Cor
Auto-retrato, desenho, 1930 - França,José Augusto (1974), Almada o Português sem Mestre. Lisboa: Estúdios Cor
Auto-retrato, desenho, grafite sobre papel, 1948 - CAM, Fundação Calouste Gulbenkian
Auto-caricatura, desenho, anos 50 - França,José Augusto (1974), Almada o Português sem Mestre. Lisboa: Estúdios Cor
Nos frescos da Gare Marítima da Rocha Conde de Óbidos 1946/1949, as figuras humanas aparecem muitas vezes em gestos teatrais. Saltimbancos, trapezistas, varinas e outras figuras, surgem numa sequência ritmicamente organizada. O equilíbrio entre o rigor da representação e o rigor do espaço arquitectónico; os valores pictóricos inéditos e o virtuosismo linear, fazem da obra uma das mais importantes do artista.  

Sem título, desenho, tinta-da-china sobre papel, 1933 - CAM, Fundação Calouste Gulbenkian
Desenho do programa das Festas de Lisboa, 1934 - França,José Augusto (1974), Almada o Português sem Mestre. Lisboa: Estúdios Cor

 Sem título, desenho, c. 1935 - França,José Augusto (1974), Almada o Português sem Mestre. Lisboa: Estúdios Cor


Almada praticou intensamente durante décadas, a busca de coincidências dos elementos estruturais das figuras geométricas mais simples: círculo, triângulo, quadrado, pentágono. A síntese dos seus estudos encontra-se no desenho inciso na parede do átrio de entrada da sede da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, intitulado “Começar”, 1968-1969.  

                               
Sem título, desenho, tinta-da-china sobre papel, 1948 - CAM, Fundação Calouste Gulbenkian
                         
"Começar", 1968/1969, desenho inciso na parede do átrio de entrada da Fundação Calouste Gulbenkian - França,José Augusto (1974), Almada o Português sem Mestre. Lisboa: Estúdios Cor
Retrato de Almada Negreiros, Museu Nacional do Teatro - Opsis
Heterónimos na obra Fernando Pessoa (Ricardo Reis, Alberto Caeiro e Álvaro de Campos) vistos por Almada Negreiros - Revista Colóquio/Letras nº 88, pág. 19 (Nov. 1985). Fundação Calouste Gulbenkian


Fonte: 
França, José Augusto (1974), Almada o Português sem Mestre. Lisboa: Estúdios Cor

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