sábado, 1 de fevereiro de 2014

D. Carlos I de Portugal, "O Rei Pintor", assassinado no atentado de 1908

Principe Real D. Carlos, aguarela sobre papel (30,3 x 21,5 cm), séc. XIX. Autor: Henrique Casanova - Palácio Nacional da Ajuda
D. Carlos I de Portugal, nasceu no dia 28 de Setembro de 1863. Os seus pais D. Luis I (1838-1889) e D. Maria Pia de Sabóia (1847-1911), baptizaram o seu filho primogénito com o nome de Carlos Fernando Luis Maria Vítor Miguel Rafael Gabriel Gonzaga Xavier Francisco de Assis José Simão de Bragança Sabóia Bourbon Saxe-Coburgo Gota. 
Ao longo da sua juventude, viajou por várias cortes europeias. Numa dessas viagens, conheceu Maria Amélia de Orleans, princesa de França, filha primogénita do Conde de Paris. Depois de um breve noivado, desposou a princesa em Lisboa, na Igreja de São Domingos, no dia 22 de Maio de 1886. 

Baptismo do príncipe D. Carlos, óleo sobre tela (94 x 137cm), séc. XIX. Autor: Tetar Van Elven (1828-1908) - Palácio Nacional da Ajuda
SS. AA. O Príncipe Real D. Carlos de Bragança e Princesa D. Maria Amélia de Orleans. Gravura de C. Alberto (Segundo uma fotografia de Numa Blanc Fils). "O Ocidente": revista ilustrada de Portugal e do estrangeiro  (nº 267 de 21 de Maio de 1886) - Hemeroteca Digital
Casamento de S. A. O Principe Real D. Carlos de Bragança - Cerimónia do casamento na Igreja de Santa Justa (vulgo São Domingos), 22 de Maio de 1886. Desenho de J. Christino. " O Ocidente": revista ilustrada de Portugal e do estrangeiro  (nº 268 de 1 de Junho de 1886) - Hemeroteca Digital
Programma de todos os pomposos festejos que se realisarão em Lisboa para solemnisar o casamento de S. A. R. o príncipe D. Carlos duque de Bragança com a princesa Maria Amelia de Orleans - Lisboa : Typ. Elzeviriana, 1886. - 27 p. ; 16 cm Página 5.( Imagem modificada digitalmente, por mim) - Biblioteca Nacional de Portugal

D. Carlos sobe ao trono, a 19 de Outubro de 1889, após a morte súbita do seu pai. Foi cognominado de O Diplomata, O Mártir e O Oceanógrafo
O reinado de D. Carlos, foi caracterizado por diversas crises políticas. No início do seu governo, o Reino Unido apresentou a Portugal o Ultimato Britânico de 1890, motivado pelo Mapa cor-de-rosa (1886), exigindo a retirada das forças militares do território compreendido entre as colónias de Moçambique e Angola (actuais Zimbabwe e Zâmbia). Portugal viu-se obrigado a abandonar os territórios africanos em questão, o que provocou sentimentos de revolta em diversas facções políticas. Explodiu então, a revolta republicana de 31 de Janeiro de 1891, no Porto, que foi de imediato abafada. 


Retrato do Rei D. Carlos, óleo sobre tela (261 x 171cm), 1890. Autor: Malhoa,  José Vital Branco - Palácio Nacional da Ajuda


Álbum de D. Carlos, Baía de Cascais , aguarela sobre papel, 1885. Autor: D. Carlos de Bragança. Foto: Luisa Oliveira - Museu do Chiado/Museu de Arte Contemporânea

Costa, aguarela sobre papel (12,5 x 21cm), 1885. Autor: D. Carlos de Bragança - Museu do Chiado/Museu de Arte Contemporânea
Album D. Carlos, aguarela sobre papel, 1885. Autor: D. Carlos de Bragança. Foto: Luisa Oliveira - Museu do Chiado/Museu de Arte Contemporânea

A crise vivida na década de 90, não impediu D. Carlos de colocar Portugal sob a atenção da diplomacia europeia. Visitou Espanha, França e Inglaterra em 1904, e esteve presente no funeral da Rainha Victoria em 1901. As suas visitas, foram retribuídas pelos Reis Afonso XIII de Espanha, Eduardo VII do Reino Unido, do Kaiser Guilherme II da Alemanha, e em 1905, Émile Loubet presidente da República Francesa.
Em Maio de 1906, D. Carlos dá permissão a João Franco para formar Governo. Depois de prometer aprofundar a democracia, João Franco esquece os compromisso, encerra a Assembleia Legislativa e dá inicio a uma ditadura. 


Mexilhoeiro, aguarela sobre papel (22,2x 13,3 cm), 1885. Autor: D. Carlos d Bragança - Museu do Chiado/Museu de Arte Contemporânea
Boca do Inferno, Cascais, desenho a lápis (11,2 x 13,3 cm), 1885. Autor: D. Carlos de Bragança - Museu do Chiado/Museu de Arte Contemporânea
Álbum de D. Carlos, chefe de guardas, Silva, Vila Viçosa, desenho a lápis, 1885. Autor: D. Carlos de Bragança. Foto: Luisa Oliveira - Museu do Chiado/Museu de Arte Contemporânea
Lembrança do Ribatejo, aguarela sobre papel (30 x 17 cm), 1894. Autor: D. Carlos de Bragança- Museu José Malhoa
Em 21 de Janeiro de 1908, dá-se uma tentativa de golpe de Estado que foi dominada pelo Governo. São presos vários suspeitos de conspiração, entre eles Afonso Costa, Dr. Egas Moniz e Visconde da Ribeira Brava. Na sequência destes incidentes, João Franco prepara um decreto, no qual, prevê o exílio para o estrangeiro ou a expulsão para as colónias, sem julgamento, de indivíduos revoltosos.
D. Carlos e a família real, encontravam-se em Vila Viçosa, onde costumavam passar uma temporada. Foi no Palácio Ducal que o rei assinou o decreto (30 de Janeiro de 1908), o qual, seria publicado a 1 de Fevereiro. Conta-se que, ao assiná-lo, declarou: "Assino a minha sentença de morte, mas os senhores assim o quiseram."

Album de D. Carlos. A janela de Lisboa, Vila Viçosa, desenho a lápis, 1885. Autor: D. Carlos de Bragança. Foto: Luisa Oliveira - Museu do Chiado/Museu de Arte Contemporânea

A sala do bilhar, Vila Viçosa, desenho a lápis sobre papel (22cm x 14cm), 1885. Autor: D. Carlos de Bragança - Museu do Chiado/Museu de Arte Contemporânea
Album de D. Carlos, Terreiro do Paço,Vila Viçosa, desenho a lápis, 1885. Autor: D. Carlos de Bragança. Foto: Luisa Oliveira - Museu do Chiado/Museu de Arte Contemporânea

No dia 1 de Fevereiro de 1908, D. Carlos regressa a Lisboa, acompanhado da família real, vindo de Vila Viçosa. Viajaram de comboio até ao Barreiro, entraram num vapor e desembarcaram no Terreiro do Paço. Nesta praça, a família real subiu para uma carruagem aberta, com destino ao Paço das Necessidades. Inesperadamente, ao atravessar o Terreiro do Paço, a carruagem real é alvejada, os disparos provêm de um atirador que rompe entre a polícia e a população. O rei, atingido com dois tiros na cabeça, teve morte imediata. 
A carruagem segue por entre a confusão instalada, porém, outro disparo atinge mortalmente o príncipe herdeiro D. Luís Filipe. O seu irmão, o infante D. Manuel, fica ferido num braço. Apenas a rainha D. Amélia que a tudo assistiu com destemor, saiu incólume. Os dois regicídas Alfredo Costa e Manuel Buíça – elementos da Carbonária - foram mortos no local, por membros da guarda real.
 

"L'attentat de Lisbonne. Le roi de portugal et le prince héritier périssent assassinés". “Le Petit Journal” (edição de domingo, 16 de Fevereiro de 1908) - Gallica- BNF
"Douleur d'épouse et  de mère. La rein de Portugal au lit de mortde son mari et de son fils". “Le Petit Journal” (edição de domingo, 16 de Fevereiro de 1908) - Gallica- BNF

No primeiro dia do mês Fevereiro de 1908, a palavra Regicídio, titulou uma página negra na História de Portugal.

A morte do rei D. Carlos e do príncipe D. Luís Filipe, foi noticiada em toda a  Europa, com emoção profunda e indignação. O  “Le Petit Journal”, na edição de domingo do dia 16 de Fevereiro de 1908 - aqui - dedica algumas páginas ao atentado de Lisboa, com publicação de duas ilustrações “L’Áttentat de Lisbonne” e “Douleur d’épouse et de mère”.

A chegada dos coches funerários a S. Vicente. "Ilustração Portuguesa" (nº 104, 17 de Fevereiro de 1908). Foto de Benoliel - Hemeroteca
D. Carlos era dotado de uma grande sensibilidade artística, o que o levou a dedicar-se a um conjunto diferenciado de actividades, destacando-se a Arte, a Ornitologia (estudo das aves), e a Oceanografia. O interesse do Homem pelo estudo do mar durante o século XIX, influenciou D. Carlos a explorar cientificamente o nosso mar, no que era acompanhado pelo seu amigo Alberto I, Príncipe do Mónaco. 
Através das suas doze Campanhas Oceanográficas (1896-1903) a bordo do "Yacht Amélia", contribuiu para o desenvolvimento dos estudos oceanográficos da costa portuguesa. O mérito da obra de D. Carlos, foi internacionalmente reconhecido, pelo que foi distinguido com vários diplomas, concedidos pelas instituições científicas de mérito da época. O Aquário Vasco da Gama, edificado por influência do rei D. Carlos e inaugurado em 20 de Maio de 1898, foi um dos primeiros aquários no mundo.

Peixe capturado em Sesimbra, aguarela, 1904. Autor: D. Carlos de Bragança - Museu do Mar
"Yacht Amélia II", aguarela sobre papel, 1897, Sesimbra. Autor: D. Carlos de Bragança - Museu do Mar
Marinha, aguarela sobre papel (16 x 21 cm), 1883. Autor: D. Caros de Bragança - Casa- Museu Dr. Anastácio Gonçaves
 
Praia de Cascais, aguarela sobre papel (24 x 16,5 cm), 1906. Autor: D. Carlos de Bragança - Casa- Museu Dr. Anastácio Gonçaves

D. Carlos foi um apaixonado por fotografia, sendo autor de uma grande parte do espólio da Família Real. 
Pintor de talento, com grande capacidade expressiva e técnica apurada,  demonstrou uma profunda sensibilidade pela temática marinha. As suas pinturas a aguarela, a óleo ou a pastel, representam o mar tranquilo ou revolto, onde incidem diferentes cambiantes de luz. Os barcos e todo o tio de embarcações, da costa de Cascais ou de outros lugares, são outra das suas paixões, provada pela assiduidade com que o rei pintou e desenhou este tema. D. Carlos assinava por vezes as suas obras com o nome "Carlos Fernando”.



Fotografia grupo da família real, 1887; impressão fotográfica; prova em papel albuminado; autor. D. Carlos I. Em primeiro plano, da esquerda para a direita, sentados: D. Luis, a rainha D. Amélia, com o príncipe D. Luis Filipe ao colo, D. Maria Pia e o rei D. Carlos - Palácio Nacional da Pena 

Arrentela, aguarela sobre papel (17,1 x 12,2 cm), 1885. Autor: D. Carlos de Bragança - Museu do Chiado/Museu de Arte Contemporânea
A porta da Penha Verde, paisagem, desenho a pastel sobre tela (111 x 74,5cm), 1898. Autor: D. Carlos de Bragança - Museu do Chiado/Museu de Arte Contemporânea
Paisagem com uma junta de bois, moinho e mar, aguarela sobre papel (40,5 x 25,3 cm), 1881. Autor: D. Carlos de Bragança - Palácio Nacional da Ajuda
Album de D. Carlos. Piedade, aguarela sobre papel, 1885. Autor: D. Carlos de Bragança. Foto: Luisa Oliveira - Museu do Chiado/Museu de Arte Contemporânea

Panteão da Dinastia de Bragança


D. Carlos I, repousa no Panteão da Dinastia de Bragança, situado no interior do Mosteiro da Igreja de São Vicente de Fora, em Lisboa. Os túmulos do rei D. Carlos I (1863-1908), de sua esposa, a rainha D. Amélia de Orleães (1865-1951), e dos filhos de ambos, o príncipe D. Luís Filipe (1887-1908) e D. Manuel II (1889-1932), último rei de Portugal, ocupam o espaço central no Panteão da Dinastia de Bragança. Junto dos túmulos de D. Carlos e do príncipe D. Luis Filipe, a escultura de uma figura feminina simbolizando a Pátria a chorar os seus mártires, foi esculpida por Francisco Franco (1885-1955). O arranjo actual do Panteão da Dinastia de Bragança é da autoria do arquitecto Raul Lino (1879-1974). A inauguração ocorreu no dia 1 de Fevereiro de 1933, data em que perfazia 25 anos o terrível atentado que vitimou o rei e o seu filho (1 de Fevereiro de 1908). 


Aspecto geral do Panteão da Dinastia de Bragança. Em primeiro plano, o túmulo da rainha D. Amélia de Orleães. Em segundo plano, os túmulos de D. Carlos e de D. Luis Filipe, com escultura de uma figura feminina. Ao fundo, o túmulo de D. Manuel II. Junto das paredes laterais, os túmulos de alguns membros da Dinastia de Bragança.(Foto: comjeitoearte)
Túmulos de D. Carlos e de D. Luis Filipe, com escultura de uma figura feminina, simbolizando a Pátria a chorar os seus mártires. A peça é da autoria do escultor Francisco Franco. Ao fundo, o túmulo de D. Manuel II, está ornado com uma coroa na parte superior. (Foto: comjeitoearte)
Túmulos de D. Carlos e de D. Luis Filipe, com escultura de uma figura feminina, simbolizando a Pátria a chorar os seus mártires. (Foto: comjeitoearte)
Entrada do Panteão da Dinastia de Bragança, situado no interior do Mosteiro da Igreja de São Vicente de Fora, em Lisboa. (Foto: comjeitoearte)

Fontes:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_I_de_Portugal

https://pt.wikipedia.org/wiki/Pante%C3%A3o_Real_dos_Bragan%C3%A7as

Regicídio. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2014. [Consult. 2014-02-01].
Disponível na www: URL: http://www.infopedia.pt/$regicidio.
 
D. Carlos. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2014. [Consult. 2014-02-01].
Disponível na www: URL: http://www.infopedia.pt/$d.-carlos.




2 comentários: