sexta-feira, 5 de agosto de 2016

"O Fio das Missangas" - Mia Couto I Arte Urbana

Foto "comjeitoearte" (Janeiro de 2016)

A interpretação de um livro (aqui) ou de um excerto literário (aqui), de autores de língua portuguesa, serviu de inspiração a intervenções de arte urbana em vidrões, espalhados pela cidade de Lisboa. 

Esta iniciativa promove a união entre a literatura de expressão portuguesa - grupo editorial Leya - e a arte urbana - Galeria de Arte Urbana (GAU) da Câmara Municipal de Lisboa.


O vidrão localizado na Rua D. Pedro V, apresenta a interpretação do livro "O Fio das Missangas" da autoria do biólogo e escritor moçambicano Mia Couto (Beira -Moçambique, 1955). 



Foto "comjeitoearte" (Janeiro de 2016)

O peixe e o homem 
 Pois que fez Santo António? Mudou somente o púlpito e o auditório (...). Deixa as praças, vai às praias; deixa a terra, vai ao mar e começa a dizer a altas vozes: já que não me querem ouvir os homens, ouçam-me os peixes.
Oh, maravilhas do Altíssimo!
Oh, poderes do que criou o mar e a terra!
Começam a ferver as ondas, começam a concorrer os peixes, os grandes, os maiores, os pequenos, e postos todos na sua ordem com as cabeças de fora da água, António pregava e eles ouviam. 
 (Extrato do Sermão de Santo António, Padre António Vieira) 
Um dia destes, quando saía de casa, deparei com meu vizinho, Jossinaldo. Estava no patamar, como que me esperando. Dos braços cruzados, espreitava uma trela. Me arrepiei. Sempre eu o tinha evitado, por causa dos ditos e desditos. O homem era conhecido pelo que fazia no parque: levava um peixe a passear pela trela. Caminhava na margem do lago, segurando a trela. (...)
  (...) E fui saindo de casa, caminhando ao mesmo passo do afamado vizinho, lado com lado. Na rua me olhavam, surpresos. Então eu autorizava a companhia do proscrito, no pleno da via pública? Debaixo dos olhares, nos dirigimos ao parque e paramos junto ao lago.
 - Veja como ele vem a correr.
E era a maior verdade. O peixão, na vista do vizinho, se aproximou da berma. Jossinaldo debruçou--se e enlaçou a trela à volta da cauda do animal.
- Vá, pegue na trela para ele lhe ganhar familiaridades.
Com o coração de fora, lá segurei na corda. O bicho veio à superfície da água e me olhou com olhos, até me custa escrever, com olhos de gente. E remergulhando me conduziu ele a mim, pela margem. Contornei por inteiro a lagoa para me reencontrar com Jossinaldo. (...) 
         Couto, Mia, "O Fio das Missangas" (conto, O Peixe e o Homem, págs.46-48) 


Texto integral:
http://www.carlaportugues.com.br/site/wp-content/uploads/2013/03/COUTO-Mia-O-Fio-das-missangas.pdf


Fontes:

https://pt.wikipedia.org/wiki/O_Fio_das_Missangas
http://www.smart-cities.pt/pt/noticia/literatura-pintada-nas-ruas-de-lisboa-1704/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Mia_Couto




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