domingo, 15 de setembro de 2019

O Passeio Público em Lisboa

Passeio Público, em Lisboa. Litografia de Anunciação. - Revista Panorama,  nº 13, Fevereiro de 1943. Arquivo do ''comjeitoearte".


Após o Terramoto de 1755, Marquês de Pombal, ao lançar as bases para uma Lisboa moderna, ponderou que a cidade precisava de um jardim, onde os elegantes do séc. XVIII pudessem dar um agradável passeio, rodeados por alamedas de buxo, estátuas, arvoredo e o perfume agradável das flores.

O local escolhido por Pombal foi o sítio das Hortas de Cêra, situado um pouco adiante do Rossio. Em  1764, o ministro encarregou o arquitecto Reinaldo Manuel dos Santos de projectar um jardim.

Planta parcial da cidade de Lisboa em que se vê o sítio do Passeio Público (na imagem, à direita), assinada por Marquês de Pombal, 1774. Arquivo Municipal de Câmara de Lisboa, AML

Lisboa passou assim, a ter um Passeio Público. Cercado por muros altos, com cancela verde, árvores alinhadas, com freixos transplantados das propriedades Ratton, na Barroca de Alva, assemelhava-se a uma quinta nobre.

As elegantes do tempo da rainha D. Maria I, passeavam por este jardim, símbolo da civilização burguesa de oitocentos. Mas, não seria este o Passeio Público definitivo.

A partir de 1836, o Passeio de Lisboa foi remodelado. O novo projecto ficou a cargo do arquitecto Malaquias Ferreira Leal. Os muros deram lugar a um gradeamento de ferro. A cancela, foi substituída por duas portas de ferro. À entrada do Passeio foi construído um lago e uma cascata, com estátuas.

Novo projecto para a frente principal do acrescentamento do Passeio Público. Leal, Malaquias Ferreira, arquitecto. Data: c. 1800 - AML
Passeio Público, maquete da autoria de Reis de Sousa. Foto: Estúdio Mário Novais. Data:1943. Negativo de gelatina e prata em acetato de celulose. - AML
Passeio Público, cascata. Planta e alçado. Foto: Estúdio Mário Novais. Data:1943. Negativo de gelatina e prata em acetato de celulose. - AML
Passeio Público do Rossio: pavilhão, lago e terraço da entrada norte. Foto: Bárcia, José Artur Leitão. Data: 1900-1945.



O Passeio organizado de forma a suprimir árvores e a incluir mais estátuas e jogos de água, tornou-se mais extenso e menos conventual. 

Em 1847, o jardim foi modificado, de acordo com o gosto da época: o lago com o repuxo e as estátuas foi retirado. As árvores e os buxos desenvolveram-se. No Passeio começaram a dar-se grandes  festas, que ficaram célebres.

Desenho com que se deverão fazer as portas e canapés de ferro que devem guarnecer a facia curva de cada uma das quadraturas do Passeio Público de Lisboa. Leal, Malaquias Ferreira, arquitecto. Data: 1845 - AML
Desenho de Bonnard para um novo projecto do Passeio Público. Bonnard, Jean. 18--?-, jardineiro. Data:1848. - AML

Atlas da carta topográfica de Lisboa: n.º 35 ( vê-se o Passeio Público à direita, na imagem)Folque, Filipe. 1800-1874, engenheiro. Data: Novembro de 1857. -. AML

D. Fernando II, marido da rainha D. Maria II, tornou o Passeio Público num espaço mundano. 

As grandes festas tiveram lugar no decorrer da década de 50, até meados de 70. As iluminações a gás (depois de 1751), os fogos de artifício deslumbrantes, as bandas de música, os concertos e as festas infantis, entusiasmavam a população.

D. Fernando II, no Passeio Público. Óleo sobre tela. Autor: Leonel Marques Pereira. Data: 1856. Palácio Nacional da Pena - MatrizNet
Iluminação do Passeio Público, em 1851. Litografia A. S. Castro. - BNP

Passeio Publico. Cartaz: monsieur Bargossi chamado o homem locomotiva.... Impresso em 1882. Lisboa, Lallemant Frères Typ. Dimensões: 59x21 cm. - BNP

Aberto quase exclusivamente à aristocracia e alta burguesia, até meados dos anos 50, passou por uma relativa democratização. O tipo de divertimentos colocados à disposição dos frequentadores, tornaram-no num espaço de lazer e de convívio. A descida dos preços também foi significativa: a entrada, que era de 240 réis, na década de 50, passou a custar 100 réis, na década de 70. 

Projecto da cascata que existia no extremo norte do Passeio Público do Rossio. Contém programa das condições para a venda da cascata do antigo Passeio Público do Rossio.Assinado por  Frederico Ressano Garcia, engenheiro. Data:1884-04-30 - 1884-05-26. - AML

 

Passeio Publico do Rocio. Lisboa, entre 1850 e 1869? SERRANO, F. A. Litografia da Rua Nova dos Mártires. - BNP 

Rua do Príncipe, actual rua 1º de Dezembro. Vê-se um dos portões do Passeio Público. Data: 1882.- AML



O Passeio Público, porém, tinha os dias contados. O sonho de uma grande Avenida que atravessa-se a cidade foi ganhando forma, e, em 1879, foi dada ordem de demolição. O Passeio Público, deu lugar à sua sucessora, a Avenida da Liberdade. 


O Passeio PúblicoAguarela de George Vivian (1798-1873). Scenery of Portugal & Spain. Litografias aguareladas de  G.Vivian. Publicado em 1839, London ; 14, Pall Mall, East : P. and D. Colnaghi and Co. - Biblioteca Nacional de Portugal, BNP



PANORAMA TIRADO DE VALE DE PEREIRO PARA A AVENIDA DA LIBERDADE. Autor: Rocchini, Francisco, 1822-1895. Fotografia datada de 1881.- BNP





Fontes:

http://arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/pt/
http://www.bnportugal.gov.pt/
Revista Panorama,  nº 13, Fevereiro de 1943. 
Dantas, Júlio. Lisboa dos nossos avós. 1931. Publicações Culturais da Câmara Municipal de Lisboa.
Matoso, José. História de Portugal. volume 5. Editorial Estampa.

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