sexta-feira, 10 de maio de 2013

100º aniversário do actor João Villaret

João Villaret, fotografia (positivo p/b, 17,5  x 11,5 cm), séc. XX - Museu Nacional do Teatro

João Henrique Pereira Villaret (Lisboa, 10 de Maio de 1913 — Lisboa, 21 de Janeiro de 1961) foi um actor, encenador e declamador português. Era filho de Frederico Villaret e de Josefina Gouveia da Silva Pereira Villaret.


Bilhete de identidade de João Villaret (15 anos), emitido em 10 de Setembro de 1928, pelo Arquivo de Identificação de Lisboa (vista parcial) - Museu Nacional do Teatro

Bilhete de identidade de João Villaret (30 anos), emitido em 8 de Maio de 1944, pelo Arquivo de Identificação de Lisboa (vista parcial) - Museu Nacional do Teatro
Após frequentar o Conservatório Nacional de Lisboa, João Villaret dedicou-se ao teatro, onde integrou o elenco da Companhia de Teatro Amélia Rey Colaço-Robles Monteiro (Lisboa), em 1931. Progressivamente ganhou fama como declamador. Em 1941, quando enveredou pelo teatro de revista, provocou algum escândalo, mas, com os êxitos sucessivos provou ser possível conciliar o género dramático e o de revista. A mais popular de todas terá sido Tá Bem Ou Não 'Tá? (1947), onde popularizou o célebre Fado Falado, da autoria de Aníbal Nazaré e Nélson de Barros. Este género de poesia ganhou enorme popularidade, especialmente depois de A Vida É Um Corridinho (1952) ou o famoso A Procissão (1955), da autoria de António Lopes Ribeiro.

João Villaret e Raul de Carvalho, fotografia (positivo p/b,18 x 24 cm). Cena do 1º acto da peça em 3 actos de Alfredo Cortez, "Tá Mar", levada à cena pela Cª Rey Colaço Robles Monteiro no Teatro Nacional Almeida Garrett na temporada 1935-1936 (estreia a 11 de Janeiro de 1936). Encenação de Robles Monteiro, cenários de Abilio de Mattos e Silva - Museu Nacional do Teatro
Maquete de cenário da peça "Tá Mar" (2º acto), guache sobre papel (36,6 x 29,6 cm), 1936. Cenário de Abílio de Mattos e Silva - Museu Nacional do Teatro
Maquete de cenário da peça "Tá Mar" (1º e 3º actos), guache sobre papel (39,5 x 32,7 cm), 1936. Cenário de Abílio de Mattos e Silva - Museu Nacional do Teatro

Figurino para "Rabanete" (João Villaret), guache sobre papel (17,7 x 12,5 cm), 1938. Figurino de José Barbosa, para a peça "Pimpinela" de Pereira Coelho e Norberto Lopes.  Levada à cena pela Companhia Rey Colaço-Robles Monteiro no Teatro Nacional de Almeida Garret, em 1938 - Museu Nacional do Teatro
A poesia, particularmente a de Cesário Verde, era uma das suas grandes paixões, tendo ficado famosas as suas tertúlias no Café Brasileira. De entre as suas peças mais célebres, destacam-se A Recompensa (1937), de Ramada Curto, A Madrinha de Charley (1938), de Brandon Thomas, Três Espelhos, de Ladislao Vadja (1947), onde representa Moisés, o inspector, Melodias de Lisboa (1955), da sua autoria, Esta Noite Choveu Prata (1954) de Pedro Bloch. Das suas interpretações cinematográficas, destacam-se em O Pai Tirano (1941), de António Lopes Ribeiro, numa breve aparição como pedinte mudo, Inês de Castro (1945), de Leitão de Barros, onde representa Martin, o bobo, Camões (1946), de Leitão de Barros, e aquela que terá sido a sua melhor interpretação de sempre em cinema, a de Telmo Pais (criado), em Frei Luís de Sousa (1950), de António Lopes Ribeiro. O seu último papel foi o de Sebastião, em O Primo Basílio (1959), de António Lopes Ribeiro. 
João Villaret e Igrejas Caeiro, foto de Teixeira (23 x 17 cm). Cena da peça "Rosa Enjeitada" de D. João da Câmara, levada à cena pelos Comediantes de Lisboa / Teatro da Trindade - Museu Nacional do Teatro - Opsis
 
Figurino para "Malacueco" (João Villaret), desenho e pintura sobre papel (50,5 x 34,9 cm), 1944. Figurino de Frederico George, para a peça "Rosa Enjeitada" - Museu Nacional dom Teatro - Opsis

Maquete de cenário da peça "Rosa Enjeitada" (1º acto), guache sobre cartolina (50 x 30 cm), 1944. Cenário de Frederico George - Museu Nacional do Teatro - Opsis
João Villaret, Lucília Simões, Assis Pacheco e António Silva, foto de Teixeira (23 x 26 cm). Cena da peça "Pigmaleão" de Bernard Shaw, pelos Comediantes de Lisboa, 1945. Estreou no Teatro da Trindade e posteriormente foi apresentada no Teatro Sá da Bandeira no Porto - Museu Nacional do Teatro - Opsis.

João Villaret, foto (8,6 x 11,6 cm)  da peça "Se o Rei fosse uma Opereta", pelos Comediantes de Lisboa / Teatro Trindade - Museu Nacional do Teatro - Opsis
Para além de encenador e actor, João Villaret criou um programa semanal na televisão portuguesa, onde declamava poesia. A sua carreira prosseguiu no Rio de Janeiro, onde representou o papel de Cardeal Gonzaga na peça A Ceia dos Cardeais, levada à cena no Teatro Municipal do Rio de Janeiro (Brasil) em 1957. Recebeu o Prémio Eduardo Brazão pela sua interpretação em "Patate" (1959) e o grau de Oficial da Ordem Brasileira do Cruzeiro do Sul. A 2 de Abril de 1960, foi feito Oficial da Ordem Militar de Sant'lago da Espada. Retirou-se dos palcos em 1960, devido a doença prolongada, tendo falecido no ano seguinte com 48 anos de idade. A sua morte causou manifestações de grande pesar em Lisboa. Em sua homenagem, Raul Solnado fundou, em 1965, o Teatro Villaret. O seu nome, foi atribuído a uma escola no concelho de Loures.

Folheto publicitário do filme "Três Espelhos" de Ladislau Vadja, litografia (33,3 x 23,8 cm), 1947.Lisboa Filme e Peninsular Films / Teatro da Trindade - Museu Nacional do Teatro
Programa do filme " Três Espelhos", de Ladislau Vadja, litografia (22,7 x 16 cm), 1947. Fernando Lemos. Lisboa Filmes e Peninsular Films - Museu do Teatro

João Villaret, caracterizado para o papel de Telmo Pais, no filme "Frei Luis de Sousa", fotografia ( positivo p/b 23 x 17 cm). Estreou no cinema S. Jorge em 1950 - Museu Nacional do Teatro
João Villaret no papel de Cardeal Gonzaga, na peça "A Ceia dos Cardeais", fotografia (positivo p/b 23 x 17 cm), 1957. T. Municipal do Rio de Janeiro - Museu Nacional do Teatro
 
Fotografia de Palmira Bastos a homenagear João Villaret, numa festa em sua homenagem realizada em 1960 no Teatro São Luis - Museu Nacional do Teatro

FADO FALADO
Aníbal Nazaré; Nelson de Barros

Fado Triste
Fado negro das vielas
Onde a noite quando passa
Leva mais tempo a passar
Ouve-se a voz
Voz inspirada de uma raça
Que mundo em fora nos levou
Pelo azul do mar
Se o fado se canta e chora
Também se pode falar

Mãos doloridas na guitarra
que desgarra dor bizarra
Mãos insofridas, mãos plangentes
Mãos frementes e impacientes
Mãos desoladas e sombrias
Desgraçadas, doentias
Quando à traição, ciume e morte
E um coração a bater forte

Uma história bem singela
Bairro antigo, uma viela
Um marinheiro gingão
E a Emília cigarreira
Que ainda tinha mais virtude
Que a própria Rosa Maria
Em dia de procissão
Da Senhora da Saúde

Os beijos que ele lhe dava
Trazia-os ele de longe
Trazia-os ele do mar
Eram bravios e salgados
E ao regressar à tardinha
O mulherio tagarela
De todo o bairro de Alfama
Cochichava em segredinho
Que os sapatos dele e dela
Dormiam muito juntinhos
Debaixo da mesma cama

Pela janela da Emília
Entrava a lua
E a guitarra
À esquina de uma rua gemia,
Dolente a soluçar.
E lá em casa:

Mãos amorosas na guitarra
Que desgarra dor bizarra
Mãos frementes de desejo
Impacientes como um beijo
Mãos de fado, de pecado
A guitarra a afagar
Como um corpo de mulher
Para o despir e para o beijar

Mas um dia,
Mas um dia santo Deus, ele não veio
Ela espera olhando a lua, meu Deus
Que sofrer aquele
O luar bate nas casas
O luar bate na rua
Mas não marca a sombra dele
Procurou como doida
E ao voltar da esquina
Viu ele acompanhado
Com outra ao lado, de braço dado
Gingão, feliz, levião
Um ar fadista e bizarro
Um cravo atrás da orelha
E preso à boca vermelha
O que resta de um cigarro
Lume e cinza na viela,
Ela vê, que homem aquele
O lume no peito dela
A cinza no olhar dele

E o ciume chegou como lume
Queimou, o seu peito a sangrar
Foi como vento que veio
Labareda atear, a fogueira aumentar
Foi a visão infernal
A imagem do mal que no bairro surgiu
Foi o amor que jurou
Que jurou e mentiu
Correm vertigens num grito
Direito ou maldito que há-de perder
Puxa a navalha, canalha
Não há quem te valha
Tu tens de morrer
Há alarido na viela
Que mulher aquela
Que paixão a sua
E cai um corpo sangrando
Nas pedras da rua

Mãos carinhosas, generosas
Que não conhecem o rancor
Mãos que o fado compreendem
e entendem sua dor
Mãos que não mentem
Quando sentem
Outras mãos para acarinhar
Mãos que brigam, que castigam
Mas que sabem perdoar

E pouco a pouco o amor regressou
Como lume queimou
Essas bocas febris
Foi um amor que voltou
E a desgraça trocou
Para ser mais feliz
Foi uma luz renascida
Um sonho, uma vida
De novo a surgir
Foi um amor que voltou
Que voltou a sorrir

Há gargalhadas no ar
E o sol a vibrar
Tem gritos de cor
Há alegria na viela
E em cada janela
Renasce uma flor
Veio o perdão e depois
Felizes os dois
Lá vão lado a lado
E digam lá se pode ou não
Falar-se o fado.


Fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Villaret
http://www.infopedia.pt/$joao-villaret
http://www.matriznet.imc-ip.pt/MatrizNet/Apresentacao.aspx

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