sexta-feira, 14 de setembro de 2012

2 - Antigos Mercados de Lisboa - Mercado da Ribeira Velha, Mercado da Ribeira Nova e Mercado de S. Bento

Ribeira de Lisboa, aguarela sobre papel, 1887, Ricardo Hogan - Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves
Lisboa teve mercados de produtos hortícolas, frutas e outros comestíveis frescos, anteriores à edificação do Mercado da Praça da Figueira. Antes de 1460, efectuava-se um mercado de hortaliças e frutas nas arcadas da Rua da Ferraria, que foi posteriormente transferido para as imediações do mercado de pescado da Ribeira Velha. Também existiu um mercado de hortaliças e frutas no Rossio, em finais do século XVI, em frente do palácio dos Condes de Almada, quando ali se realizava a Feira da Ladra.
 
Mercado da Ribeira Velha, destacando-se a Casa dos Bicos (antes do Terramoto), painel de azulejos, séculos XVII-XVIII . Museu da Cidade - El Pueblo de Lisboa (1980) CML

Novo Guia do viajante em Lisboa e seus arredores Cintra, Collares, Mafra ... Por F. M. Bordalo 1863, página 99 - FCG Biblioteca da Arte
Casa dos Bicos, foto de José Artur Leitão Bárcia, 1890-1945. A Casa dos Bicos foi mandada construir em 1523 por Braz de Albuquerque, filho de Afonso de Albuquerque. A reabilitação do edifício data de 1983. - Monumento Nacional por decreto de 16-06-1910 - AML
A par dos mercados hortícolas, existia em Lisboa um mercado de pescado que, no século XVI, já se situava na Ribeira, era conhecido por Mercado da Ribeira Velha. Ocupava a faixa de terreno em frente à Casa dos Bicos, com várias barracas, onde as vendedeiras colocavam o peixe para venda. Consta que era um dos mercados de pescado melhor abastecidos do mundo.
Com o Terramoto de 1755, e depois de um período em que a cidade teve mercados provisórios, D. José mandou edificar para a venda de pescado, na Ribeira da cidade, nos terrenos perto da Praia de S. Paulo, o mercado da Ribeira Nova em 1771.
Mercado da Ribeira Nova na sua forma primitiva, gravura. Foto de Eduardo Portugal. Museu da Cidade - AMLChamado Mercado da Ribeira Nova, por ter vindo substituir a antiga praça em frente da Casa dos Bicos, era formado por um quadrado de 132 telheiros e cabanas, possuindo ao todo 256 bancas de venda.
Neste local e desde o século XVI, existiam cabanas onde homens e mulheres assavam sardinhas e outras variedades de peixe, que vendiam a marinheiros e a trabalhadores negros e brancos. O novo mercado formava um quadrilátero, era todo empedrado e lageado. Destinava-se à venda de pescado fresco. Tinha 123 cabanas e telheiros com 256 lugares de venda, alugados com carácter vitalício às vendedeiras. Posteriormente foi alargado às vendedeiras de frutas e verduras que ocupavam uma parte da Ribeira Velha. 

Levantamento topográfico de Francisco Goullard: nº 340, 1881. Planta referente à rua Occidental da Moeda, à praça Dom Luiz Primeiro, mercado e rua da Ribeira Nova ( Na planta, assinalei digitalmente o espaço do Mercado da Ribeira com uma seta na cor amarela) - AML
Projecto do Mercado da Ribeira Nova, planta e fachada, 20/04/1876. Frederico Ressano Garcia (1847-1911) - AML
Projecto do Mercado da Ribeira Nova, detalhes, 20/04/1876. Frederico Ressano Garcia (1847-1911) - AML
Projecto do Mercado da Ribeira Nova, detalhes, 20/04/1876. Frederico Ressano Garcia (1847-1911) - AML
O novo Mercado da Avenida 24 de Julho ou Mercado da Ribeira Nova, como também ficou conhecido, foi projectado pelo engenheiro Ressano Garcia - a quem se deve o planeamento e construção de estruturas da zona metropolitana de Lisboa como a Avenida da Liberdade, a Praça Marquês de Pombal, a Avenida 24 de Julho, os bairros de Campo de Ourique e da Estefânia e a Linha de Sintra. O mercado tem 10 mil metros quadrados de área coberta e foi inaugurado em 1 de Janeiro de 1882. Em 1893 foi parcialmente destruído por um incêndio. A reconstrução, ficou a cargo do arquitecto João Piloto e foi concluída em 1930, com a instalação da cúpula. O Mercado voltou rapidamente a ser o centro do comércio grossista e retalhista. No ano de 2001 o espaço estreou um novo aspecto social, cultural e recreativo. O antigo mercado da Ribeira Nova foi demolido em 1926.

O Novo Mercado 24 de Julho, inaugurado em 1 de Janeiro de 1882 (Desenho do Natural por António Ramalho) - O Ocidente : revista ilustrada de Portugal e do estrangeiro, nº 109 de 1 de Janeiro de 1882 - Hemeroteca Municipal de Lisboa
Panorâmica da Ribeira, post. 1895 - AML
Mercado 24 de Julho ou Ribeira Nova, foto de Eduardo Portugal - AML
Varina preparando o peixe para venda, foto de Benoliel, Joshua, 1909 - AML
Varinas à porta do Mercado 24 de Julho, foto de Benoliel, Joshua, 1909 - AML

O Mercado da Ribeira, óleo sobre madeira, 1924, Mário Augusto. Foto de José Pessoa - Museu Grão Vasco
Vendedeira de peixe, aguarela, 1940, Alberto Souza - Museu José Malhoa
Mercado 24 de Julho, foto de Eduardo Portugal, depois de 1930 - AML

Mercado de S. Bento

A parte ocidental da cidade tinha também um mercado próprio, o Mercado de S. Bento, situado na Rua de s. Bento e inaugurado em 1 de Janeiro de 1881. O edifício foi construído em ferro, com projecto do arquitecto E. A. Bettencourt. Tinha 29 tendas, cada uma com 22 lugares. Vendia hortaliça, frutos, aves, carnes, pescado, bebidas, e toda a espécie de víveres. O edifício foi construído pela Companhia dos Mercados Edificações Urbanas, que teve o direito de o explorar por cinquenta anos no fim dos quais o entregou à Câmara. Foi demolido em 1938.


Mercado Ocidental em S. Bento, Lisboa, inaugurado em 1 de Janeiro de 1881. (Desenho do natural por António Ramalho). "O Ocidente", revista ilustrada de Portugal e do estrangeiro, nº 80 de 11 de Março de 1881 - Hemeroteca Municipal de Lisboa
Mercado de S. Bento, 1898-1908 - AML
Alfarrabista no mercado de S. Bento, mano João. Foto de Benoliel, Joshua, 1907 - AML
A volta do Mercado (estudo), desenho a carvão, 1927. Carlos António Rodrigues dos Reis - Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves
Mulheres no Mercado, óleo sobre tela, século XX. Abel Salazar - Museu Abade de Baçal

Fontes:
El Pueblo de Lisboa (1980), CML
 O "Ocidente" revista ilustrada de Portugal e do estrangeiro, Hemeroteca Municipal de Lisboa



2 comentários:

  1. Parabéns pelo o trabalho.
    Gostava muito de ser daquele tempo.

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    1. O ar puro, os fertilizantes orgânicos, os pastos naturais, os rios e os mares despoluídos, contribuíam certamente, para a boa qualidade dos produtos hortícolas, frutícolas, pescado e açougue, vendidos nestes locais.
      Agradeço o seu incentivo!
      Saudações.

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