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Pintura mural no Porto - As Paredes na Revolução, Graffiti, 1978. Mil Dias |
No dia 25 de Abril de 1974, às zero horas e vinte minutos, forças militares em vários pontos de Portugal, aguardam a senha para o desencadear das operações militares. O aviso havia sido difundido às 22h 55m, com a transmissão da canção “E Depois do Adeus”, nos Emissores Associados Portugueses. A senha chegou pela canção “Grândola Vila Morena”, transmitida pela Rádio Renascença.
Grândola Vila Morena
Grândola vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade
Dentro de ti, ó cidade
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada esquina um amigo
Em cada rosto igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada rosto igualdade
O povo é quem mais ordena
À sombra de uma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola a tua vontade
Zeca Afonso
As primeiras operações militares desencadeiam-se entre as 00h 30m e as 3 horas, e são decisivas para o êxito final do golpe levado a cabo pelo Movimento das Forças Armadas (MFA). O Terreiro do Paço, foi um dos principais postos de convergência de tropas apoiadas por carros blindados. Às 19h 50m um comunicado do MFA, anuncia formalmente a queda do Governo.
O Povo na rua e em aliança com o MFA, teve um papel determinante no derrube da mais velha, longa e penosa ditadura de toda a História.
E depois do Adeus
Quis saber quem sou
O que faço aqui
Quem me abandonou
De quem me esqueci
Perguntei por mim
Quis saber de nós
Mas o mar
Não me traz
Tua voz.
Em silêncio, amor
Em tristeza e fim
Eu te sinto em flor
Eu de sofro, em mim
Eu te lembro, assim
Partir é morrer
Como amar
É ganhar
E perder
Tu vieste em flor
Eu te desfolhei
Tu te deste em amor
Eu nada te dei
Em teu corpo, amor
Eu adormeci
Morri nele
E ao morrer
Renasci
E depois do amor
E depois de nós
O dizer adeus
O ficarmos sós
Teu lugar a mais
Tua ausência em mim
Tua paz
Que perdi
Minha dor que aprendi
De novo vieste em flor
Te desfolhei…
E depois do amor
E depois de nós
O adeus
O ficarmos sós
José Niza
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Pintura mural - As Paredes na Revolução, Graffiti, 1978. Mil Dias (imagem restaurada digitalmente).
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Pintura Mural no Cacém - As Paredes na Revolução, Graffiti, 1978. Mil Dias (imagem restaurada digitalmente). |
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Nos dias 26 e 27 de Abril, foram libertados todos os presos políticos. As portas das prisões de Caxias e de Peniche abriram-se de par em par, permitindo o encontro entre familiares e amigos. Todos os que foram obrigados ao exílio, puderam regressar. Entre eles, alguns dos mais significativos valores da cultura portuguesa – escritores, intelectuais, cientistas, artistas – foram recebidos pela população que os aguardava com cravos vermelhos e cartazes.
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Pintura Mural em Santo António dos Cavaleiros - As Paredes na Revolução, Graffiti, 1978. Mil Dias (imagem restaurada digitalmente). |
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Pintura Mural em Santo António dos Cavaleiros - As Paredes na Revolução, Graffiti, 1978. Mil Dias (imagem restaurada digitalmente). |
Tanto Mar (versão I)
Sei que estás em festa, pá
Fico contente
E enquanto estou ausente
Guarda um cravo para mim
Eu queria estar na festa, pá
Com tua gente
E colher pessoalmente
Uma flor do teu jardim
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também que é preciso, pá
Navegar, navegar
Lá faz primavera, pá
Cá estou doente
Manda urgentemente
Algum cheirinho de alecrim
Chico Buarque
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Pintura Mural em Lisboa, Centro de Cultura popular de Alcântara - As Paredes na Revolução, Graffiti, 1978. Mil Dias |
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Pintura Mural em Lisboa, Centro de Cultura popular de Alcântara - As Paredes na Revolução, Graffiti, 1978. Mil Dias |
Com o
reconhecimento do direito de reunião e associação, puderam vir para a
legalidade, diversos partidos políticos e movimentos, citam-se, o
Partido Socialista Português (PS), o Partido Popular Democrático (PPD),
o Partido Comunista Português (PCP), o Movimento Democrático Português
(MDP), o Movimento de Esquerda Socialista (MES), o Movimento
Reorganizativo do Partido do Proletariado (MRPP), a Frente Socialista
Popular (FSP), a União Democrática Popular (UDP), entre outros.
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Pintura Mural em Lisboa - As Paredes na Revolução, Graffiti, 1978. Mil Dias |
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Pintura Mural em Lisboa - As Paredes na Revolução, Graffiti, 1978. Mil Dias |
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Pintura Mural em Lisboa - As Paredes na Revolução, Graffiti, 1978. Mil Dias |
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Pintura Mural em Lisboa - As Paredes na Revolução, Graffiti, 1978. Mil Dias |
Com o fim da censura veio a liberdade de expressão. Uma das formas de extravasação da liberdade, residiu nas paredes do país. Tudo foi escrito e pintado nas paredes após o 25 de Abril. Aí, a população expressou o seu talento e entusiasmo, deste modo a riqueza de criação, seja temática, seja pictural, foi transportada para as paredes. As inscrições e figurações das paredes, quer fossem apenas reflexos partidários, quer contassem histórias individuais, colaboraram para o belo e impetuoso momento de liberdade que Abril proporcionou.
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Pintura Mural em Setúbal - As Paredes na Revolução, Graffiti, 1978. Mil Dias |
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Pintura Mural - As Paredes na Revolução, Graffiti, 1978. Mil Dias |
Portugal Ressuscitado
(Caxias, 26 de Abril de 1974)
Depois da fome, da guerra
da prisão e da tortura
vi abrir-se a minha terra
como um cravo de ternura.
Vi nas ruas da cidade
o coração do meu povo
gaivota da liberdade
voando num Tejo novo.
Agora o povo unido
nunca mais será vencido
nunca mais será vencido
Vi nas bocas vi nos olhos
nos braços nas mãos acesas
cravos vermelhos nos olhos
rosas livres portuguesas.
Vi as portas da prisão
abertas de par em par
vi passar a procissão
do meu país a cantar.
Agora o povo unido
nunca mais será vencido
nunca mais será vencido
Nunca mais nos curvaremos
ás armas da repressão
somos a força que temos
a pulsar no coração.
Enquanto nos mantivermos
Todos juntos lado a lado
Somos a glória de sermos
Portugal ressuscitado.
Agora o povo unido
nunca mais será vencido
nunca mais será vencido
José Carlos Ary dos Santos
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Pintura Mural - As Paredes na Revolução, Graffiti, 1978. Mil Dias |
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Pintura Mural - As Paredes na Revolução, Graffiti, 1978. Mil Dias |
Lisboa tornou-se o centro das atenções da diplomacia e da informação mundial, os porta-vozes dos governos e comentaristas dos órgãos de informação, pronunciavam-se sobre a situação do país. O isolamento internacional terminou, depois de 48 anos de repressão.