domingo, 29 de janeiro de 2017

Sombrinhas antigas I Portugal

Palácio Burnay, Garden-Party no jardim, Lisboa (23-05-1907)- Fotografia. Dimensão: 9 x 12 cm. Negativo de gelatina e prata em vidro - Arquivo Fotográfico da Câmara Municipal de Lisboa. 
Na foto, uma das três senhoras usa sombrinha branca, símbolo de elegância e distinção.

O Garden-Party, festa no jardim, foi dos acontecimentos mais importantes para a alta sociedade no início do século XX. Henrique Burnay, 1º conde de Burnay (1838-1909), capitalista, empresário e político português, ofereceu um Garden-Party no seu palácio, situado na Rua da Junqueira (Palácio Burnay), em Maio de 1907. Nestes eventos os homens trajavam de forma solene. As senhoras ostentavam elegantes trajes de passeio.


Palácio Burnay, Garden-Party no jardim, Lisboa (1907)- Fotografia. Dimensão: 9 x 12 cm. Negativo de gelatina e prata em vidro - Arquivo Fotográfico da Câmara Municipal de Lisboa. Nestes eventos os homens trajavam de forma solene. As senhoras  ostentavam elegantes trajes de passeio.

A sombrinha data de tempos remotos. Usada como protecção contra o sol, surge muito antes do chapéu de chuva. Do Oriente, onde era considerada um símbolo de elegância e distinção, passou ao conhecimento dos Gregos e Romanos.

No decorrer da Idade Média, o chapéu de sol foi esquecido por um longo período de tempo, reaparecendo em Itália, durante o século XIV.



O Correio das Damas: jornal de literatura e de modas; 25 de Julho de 1838. Ed. Jacinto da Silva Mengo. Tipografia Lisbonense, 1836-1852. Lisboa.  - Biblioteca Nacional de Portugal 


O Correio das Damas 
Chapeo franzido. Saia de cambraia de Escocia. Roupão de gros de Tours. Chapeo de gros de Naples. Vestido de cambraia. Chale de gros de Argel. 
Correio das Damas: jornal de literatura e de modas; 25 de Julho de 1838. Biblioteca Nacional de Portugal



O Correio das Damas: jornal de literatura e de modas;. "Modas. Toilettes diversas"; 25 de Julho de 1838, pág. 50. Ed. Jacinto da Silva Mengo. Tipografia Lisbonense, 1836-1852. Lisboa.  - Biblioteca Nacional de Portugal.
No Correio das Damas, de 25 de Julho de 1838, página 59 (em cima, ao lado direito), pode ler-se:
Toilettes diversas.

Toilette de  passeio. - Vestido de seda de cordãosinho côr de lírio, guarnecido de tres ordens de seda preta. - Chapeo de palha d' arrôz ornado de flores. - Luvas côr de canário.
Dita. - Vestido de cassa de lã, côr de rosa. - Mantelete de setim preto, guarnecido de renda da mesma côr. - Chapeo, franzido, de seda branca. - Luvas brancas. - Chapeo de sol côr de castanha.
           (...) 
O Correio das Damas: jornal de literatura e de modas; "Modas. Toilettes diversas"; 25 de Julho de 1838, pág. 50. Biblioteca Nacional de Portugal


A partir do século VXIII, a sombrinha foi um importante acessório do traje feminino europeu. No século seguinte, conheceu diferentes formas e materiais, e tornou-se no acessório indispensável da toilette feminina aristocrática e burguesa, da sociedade portuguesa. Nestes círculos da sociedade, a influência da moda francesa era evidente. 



Sombrinha que pertenceu à Rainha D. Amélia. Renda de agulha de Bruxelas sobre gorgorão de seda azul-clara. Ornamentação floral. Cabo dobrável de tartaruga loira, incrustado de brilhantes (comp. 78,7 cm). A segurança de ligação do cabo é feita por peça metálica com a legenda: "Kermesse - Maio 1888". Cordão e duas borlas de seda azul-clara. 
Maria Laura Viana de Siqueira, "Sombrinhas", Ensaios nº 3. Museu Nacional dos Coches, Ministério da Comunicação Social. Lisboa: 1976.

Sombrinha que pertenceu à Rainha D. Amélia, com estojo forrado exteriormente de cetim cor de marfim e interiormente de cetim e veludo do mesmo tom, apresenta no tampo as armas reais da Família de Orléans e Bragança, encimadas pela coroa.
Maria Laura Viana de Siqueira, "Sombrinhas", Ensaios nº 3. Museu Nacional dos Coches, Ministério da Comunicação Social. Lisboa: 1976.


A variedade de sombrinhas existentes no século XIX, possibilitava a sua utilização nas mais variadas ocasiões. Entre os anos 30, e meados da década de 60, do mesmo século, distinguem-se as sombrinhas de cabo de dobrar, de pequenas dimensões, ideais para os passeios em carros de cavalos.



Sombrinha de renda em trabalho de bilros, de Bruxelas (séc. XIX). Ornamentação de motivos florais. Sombra de seda lilás, forrada a seda branca. Cabo dobrável, em marfim trabalhado (comp. 55 cm). Uma peça metálica decorada com folhas e flores, serve de segurança na articulação do caboMaria Laura Viana de Siqueira, "Sombrinhas", Ensaios nº 3. Museu Nacional dos Coches, Ministério da Comunicação Social. Lisboa: 1976.


Sombrinha de renda em trabalho de bilros, de Bruxelas, com cabo articulado de marfim trabalhado ligeiramente curvo na extremidade. Peça metálica trabalhada, na articulação do cabo. Transferência do Museu Nacional dos Coches para o Museu Nacional do Traje e da Moda .    MatrizNet

Sombrinha de renda "dentelle d'Irlande" em crochet finíssimo, a imitar o ponto rosa da renda de Veneza (século XIX). Sombra de seda cor de marfim, com forro em seda do mesmo tom, rematado por galão franjado. Cabo dobrável em marfim trabalhado, com peça metálica de segurança decorada e com a legenda: "Boulevard des Italiens - Cazal - Paris" (comp. 60,7 cm). Da pequena ponteira de marfim, pendem duas borlas suspensas de um cordão. Oferecido ao museu por Beatriz Cinatti Batalha Reis. Laura Viana de Siqueira, "Sombrinhas", Ensaios nº 3. Museu Nacional dos Coches, Ministério da Comunicação Social. Lisboa: 1976.


Cabo de dobrar, varetas e cobertura, são os elementos que constituem as sombrinhas deste grupo. O primeiro elemento: o cabo. Trabalhado em marfim, coral e madrepérola, distingue as sombrinhas mais elegantes; a madeira ou o marfim liso, são usados nos modelos mais simples. O metal é também utilizado desde o início do século XIX. 



 Correio das Damas: jornal de literatura e de modas; 30 de Junho de 1852. Ed. Jacinto da Silva Mengo. Tipografia Lisbonense, 1836-1852. Lisboa.  - Biblioteca Nacional de Portugal 

Correio das Damas
Chapéo de palha d'arrôz. Vestido de tafetá. Mantelete de cassa. - Chapéo de palha e clina. Saia de tafetá......... (?)
Correio das Damas: jornal de literatura e de modas; 30 de Junho de 1852. Biblioteca Nacional de Portugal

Correio das Damas: jornal de literatura e de modas;. "Modas. Toilettes diversas"; 30 de Junho de 1852, pág. 143. Ed. Jacinto da Silva Mengo. Tipografia Lisbonense, 1836-1852. Lisboa.  - Biblioteca Nacional de Portugal.

No Correio das Damas, de 30 de Junho de 1852, página 59, pode ler-se:

Modas. 
Toilettes Diversas.

Toilette de passeio. - Chapéo franzido de grôdenaple branco ornado de plumas e fitas da mesma côr. - Vestido de seda de furta-côres, guarnecido em roda da saia de quatro ordens de folhos recortados a ferro. Corpo á Amazona, aberto até á cintura. Mangas largas, e sobmangas de tulle bordada. Luvas brancas. Chapéo de sol de seda branca. Botinhas da côr do vestido.
                      (...) 
Dita. - Chapéo de palha de arrôz, ornado de flores. Vestido côr de óca queimada, de tafetá de Itália, guarnecido em roda da saia, de tres ordens de folhos, ornados de um festão de flores, estampados na mesma seda. Corpoliso e afogado aberto até ao meio do peito. Mangas largas e sobmangas de tulle bordada. Camizeta de cambraia bordada. Mantelete de cassa bordado e guarnecido de uma larga renda. Luvas côr de cana. Chapéo de sol de seda branca. Botinhas pretas.
                     (...) 
Correio das Damas: jornal de literatura e de modas; "Modas. Toilettes diversas". 30 de Junho de 1852, pág. 143. Biblioteca Nacional de Portugal

O segundo elemento a considerar na constituição da sombrinha: as varetas. O material utilizado na sua fabricação é diferençado: as barbas de baleia ou aço destinam-se às sombrinhas de melhor qualidade; nas de qualidade inferior, as varetas são de cana.  

Uma Vista do Passeio Público; óleo sobre tela (97 cm x 130,5 cm); 1856; Romantismo. Autor: Leonel Marques Pereira. - Palácio Nacional da Pena MatrizNet.
(...)
“Nesse grupo, destaca-se ao centro a figura do rei D. Fernando II, alto, esguiu e elegante, trajando fraque castanho, calças brancas e chapéu alto. Junto à personagem central e trajando uniforme militar, o seu ajudante de campo, o conde de Campanhã, sendo as outras duas figuras masculinas que compõem este núcleo central, Almeida Garrett e o Marquês de Ávila e Bolama. (...) As damas surgem representadas com um conjunto de coloridos trajes e amplas saias que fazem adivinhar por baixo os saiotes e as crinolinas em oposição aos corpetes justos e decotados. As capas, os chapéus e as sombrinhas constituem o natural complemento de toilette”.

Sombrinha de seda de cor bege, rematada por folho em renda de bilros (séc. XIX). Forro acetinado em cor-de-rosa forte. Cabo dobrável, em marfim trabalhado (comp. 61 cm). A segurança de ligação do cabo é de latão cinzelado, com motivos ornamentais. O seu formato lembra de certo modo, a forma dos pagodes chinesesOferecido ao museu por Beatriz Cinatti Batalha Reis. Maria Laura Viana de Siqueira, "Sombrinhas", Ensaios nº 3. Museu Nacional dos Coches, Ministério da Comunicação Social. Lisboa: 1976.

Praia de Banhos, Póvoa de Varzim; óleo sobre tela; 1884. Autor: João Marques de Oliveira.  Museu do Chiado - Museu Nacional de Arte Contemporânea. MatrizNet
"No 
areal da praia nortenha, à direita, um grupo de senhoras: uma de pé e outras duas sentadas em cadeiras de madeira, com vestidos em rosa, cinzento e violeta, usando chapéus e sombrinhas abertas que as protegem do sol". 


Renda para sombrinha (século XIX). Renda "blonde" espanhol, de cor preta. Composição floral disposta em sentido radiadoOferecido ao museu por Beatriz Cinatti Batalha Reis. Laura Viana de Siqueira, "Sombrinhas", Ensaios nº 3. Museu Nacional dos Coches, Ministério da Comunicação Social. Lisboa: 1976.

Na praia, 1907; fotografia (9 x 12); negativo de gelatina e prata sobre vidro; fotógrafo: Benoliel, Joshua.1873-1932. Arquivo Fotográfico da Câmara Municipal de Lisboa. 
Seróes: revista mensal ilustrada, nº 4, Julho de 1901, pág. 255 - CML Hemeroteca Digital


O último e muito importante elemento da sombrinha: a cobertura. O tecido de seda, liso ou lavrado, em todos as cores e variedade de tons,  é amplamente utilizado. A sombrinha de seda lisa, revestida de renda preta ou branca, é símbolo de elegância e distinção. Particulariza-se a cobertura rematada com aplicação de larga franja; realizada em seda escocesa; e a guarnecida de penas. Muitas delas eram forradas de seda branca. Quanto ao formato da cobertura destacaram-se dois tipos: um em forma de cúpula e o outro em forma de pagode, por influência dos objectos exóticos oriundos do Extremo Oriente.


Praia de Cascais, (1906); aguarela sobre papel; 24 x 16,5 cm. Autor: D. Carlos de Bragança. (1863-1908). Composição representando senhora de costas, na praia.  Veste saia comprida e chapéu; sobre o ombro segura uma sombrinha fechada. Casa Museu Dr. Anastácio Gonçalves. MatrizNet

Sombrinha de tule e tecido bordado; 1900. Material: fio de seda branco; seda creme; bambu, metal pobre dourado; metal pobre prateado.Técnica:tule mecânico branco; tecido bordado; tafetá; mousseline; metal relevado. Altura: 98 cm; diâmetro: 86,5 cm. "Sombrinha de tule mecânico branco com bordado a fio de seda da mesma cor, formando decoração floral, vegetalista e geométrica. Sombra de tafetá de seda creme. Folhos do mesmo tule bordado e de mousseline de seda. Cabo de madeira de bambu, arqueado na parte superior, com aplicação de cabeça de cisne de metal pobre dourado com decoração incisa e relevada. Armação e varetas de metal pobre prateado". Doação - José Manuel Mendes Martins. Museu Nacional do Traje e da Moda. MatrizNet

Retrato de Maria Cristina Bordalo Pinheiro; óleo sobre tela; 1912. Autor: Bordalo Pinheiro, Columbano. "Retrato de uma sobrinha do pintor, jovem mulher sentada a corpo inteiro, trajando elegantemente à moda dos anos 10. Tem o corpo virado para a direita mas olha na direcção contrária, usando um longo vestido branco, chapéu com faixa preta e segura na mão direita uma sombrinha vermelha e branca. Numa mesa a seu lado, vêem-se um samovar de cobre, brilhando, uma chávena e um bule prateado, sobre um fundo castanho nebuloso" . Doação - Emília Bordalo Pinheiro, viúva do artista. Museu do Chiado - Museu Nacional de Arte Contemporânea. MatrizNet


Capa da revista Ilustração Portuguesa, nº 25, de 13 de Agosto de 1906, 2ª série. Hemeroteca Digital



Seróes: revista mensal ilustrada, nº 72, Junho de 1911, pág. 477 - CML Hemeroteca Digital

Chronica da Moda
(...)
Um complemento gracioso, alem de indispensavel para uma toilette de verão, é sem duvida uma bonita sombrinha. Algumas são um verdadeiro mimo de bom gosto, em linho branco, com bordado inglez, reunindo á beleza o serem tambem muito praticas o que não succede com as de seda, que a não serem muito boas, são de pouca duração. Nos cabos, uns grandes laços de velludo preto tem novidade. Para mais toilette, as de renda sobre seda, são tambem de bom gosto. 
(...) 
Seróes: revista mensal ilustrada, nº 72, Junho de 1911, pág. 478 - CML Hemeroteca Digital

Sombrinha de seda branca bordada; 1918-1920. Material: seda branca; vidrilhos; missangas e madeira. Comprimento: 64 cm. "Sombrinha com pano em tafetá de seda branca bordada com missangas e vidrilhos da mesma cor, formando motivos florais. Forro em tafetá de seda branca. Cabo e ponteira torneada de madeira clara. Varetas de metal pobre dourado". Doação - Elina de Moraes Sarmento de Moura Mattosa. Museu Nacional do Traje e da Moda. MatrizNet


Dama nobre do Japão com sombrinha de papel (em cima, lado direito). "Ilustração Portuguesa", nº 25, 13 de Agosto de 1906; 2ª série. - CML, Hemeroteca Digital


O gosto pelos artigos exóticos oriundos do Extremo Oriente, cresceu na Europa a partir da segunda metade do século XIX, levando à importação de sombrinhas, entre outros objectos nipónicos. Esta preferência manteve-se durante as duas primeiras décadas do século XX.


Sombrinha; papel pintado, fibra vegetal e fio de algodão. Origem: China. Início do século XX. Comp. 71 cm; diâm. 68,5 cm. Museu Nacional do Traje e da Moda. Doação - Maria Fernanda Rosado. - MatrizNet 

Sombrinha Chinesa; século XX. Material: Papel pintado; bambú. Diâmetro: 51,5 cm; comprimento: 70,6 cm. "Sombrinha Chinesa em pano de papel pintado de azul, imitando a técnica de batik. Varetas de madeira pintadas de preto no exterior e de cor natural pelo interior. Ponteira de madeira forrada de papel de lustre preto. Cabo de bambú de cor natural com manchas castanhas". Doação - Germana Martins da Ponte Rodrigues. - Museu Nacional do Traje e da Moda. MatrizNet

Sombrinha (Wagasa) de produção artesanal (1868-1926). Origem: Japão. Materiais: papel "washi" de fabrico tradicional japonês colorido por técnica de gravura (?); uma vara de bambu; setenta e duas varetas de bambu; madeira não identificada pintada. Museu dos Biscainhos. Doação de António Cerqueira Queiroz, "Casa da Ponte", de Arcos de Valdevez. MatrizNet

A sombrinha "wagasa" de produção artesanal japonesa, implicava um processo de fabrico bastante difícil, o que exigia cerca de uma dezena de artífices a trabalhar na execução de cada peça, durante vários meses. Nos artefactos destinados ao abrigo da chuva, era indispensável a impermeabilização do papel através da aplicação de lacas, entre outros produtos. Na Ásia, o papel e a seda foram usados abundantemente na confecção de sombrinhas e guarda-sóis. Um exemplar japonês pertenceu a uma dama portuguesa de Arcos de Valdevez (imagem em cima).



Desenho (Sem título); Guache; Aguarela; Grafite e Tinta da china; sobre papel. Data: 1922. Dimensão 25 x 18 cm. Autor: Bernardo Marques.  Museu Calouste Gulbenkian 

Sombrinha de cetim de seda preta; Art Déco (1920-1930). Diâmetro: 61 cm; comprimento: 55 cm. "Sombrinha com pano cortado aos gomos de cetim de seda preta e cetim de seda branca, guarnecido com largo folho franzido e pespontado de cetim de seda branca. Cabo em forma de "L", de secção quadrangular, em galatite branca, terminando em galatite branca e amarela nas extremidades. Ponteira de madeira pintada de preto. Varetas de metal pobre pintado de preto com terminações esféricas de galatite preta". Doação - Maria Elisa Metelo. Museu Nacional do Traje e da Moda. MatrizNet

Figurino para Elisa Doolitte do musical peça "My Fair Lady" ; guache sobre papel (2002). Autor: Victor Pavão dos Santos. "Figurino para Elisa Doolittle (5) (Anabela) do musical "My Fair Lady", uma produção de Filipe La Féria no Teatro Politeama em 2002. Figurino feminino com vestido comprido branco com pintas pretas. A parte de cima do vestido é constituído por uma grande gola que também fazem de mangas, muito cintado abrindo depois da cintura. Saia justa, comprida e com ligeira cauda. Na cintura duas roas vermelhas. Usa um manguito branco com pintas pretas e decorado com rosas. Segura uma sombrinha branca e preta. Na cabeça um enorme chapéu também decorado com rosas. No canto superior direito está indicado que se trata do traje para ser usado em Ascot."  Doação - Victor Pavão dos Santos - Museu Nacional do Teatro. MatrizNet. 

Após as duas  primeiras décadas do século XX, a prática do  desporto e a moda da pele bronzeada, fazem da sombrinha (guarda-sol) um acessório votado ao esquecimento.


Revista Ilustração, nº 53, 1 de Março de 1928; pág.: 33. Em baixo, à direita - sombrinha em musselina de dois tons, estampada e trabalhada. Criação Vedrenne. CMLHemeroteca Digital

Revista Ilustração, nº 60, 16 de Junho de 1928; pág.: 33. "Hipismo e elegâncias - Na nossa página arquivamos os mais belos documentos das últimas provas hípicas internacionais, não só sob o ponto de vista puramente desportivo, mas também sob o ponto de vista de elegância pois que o Concurso Hípico foi uma verdadeira parada de luxo e bom gôsto, distinguindo-se, na aristocrática exibição, os modelos de "toilettes" da célebre criadora de modas Mme Valle, com chapéus de TáTá, e que reproduzimos na nossa página à direita." CML, Hemeroteca Digital

Sombrinha de tecido estampado; 1920. Material: Algodão creme; madeira; metal; tecido estampado. Diâmetro: 72 cm. "Sombrinha com pano em tafetá de algodão creme estampado com decoração floral em tons policromos. Cabo de madeira com pega cilíndrica de madeira com decoração floral e geométrica incisa e pintada de verde e vermelho. Ponteira de madeira. Varetas de metal pobre pintado de preto com terminações em plástico (baquelite?) vermelho" . Doação - Maria Luisa Seabra Dinis. Museu Nacionaldo Traje e da oda. MatrizNet

Sombrinha de tecido estampado; 1920. Cabo de madeira com pega cilíndrica de madeira com decoração floral e geométrica incisa e pintada de verde e vermelho.Museu Nacional do Traje e da Moda. MatrizNet


Na literatura portuguesa, mais concretamente na obra Os Maias, de Eça de Queiroz (1845-1900),  os objectos intervêm na acção, assumindo importância e destaque. 

No excerto do livro (em baixo), tem protagonismo um objecto: a sombrinha escarlate... 



(...)
Daí a dias, Afonso da Mais viu enfim Maria Monforte. (...) Maria, abrigada sob uma sombrinha escarlate, trazia um vestido cor-de-rosa cuja roda, toda em folhos, quase cobria os joelhos de Pedro sentado ao seu lado: as fitas do seu chapéu, apertadas num grande laço que lhe enchia o peito, eram também cor-de-rosa: e a sua face, grave e pura como um mármore grego, aparecia realmente adorável, iluminada pelos olhos dum azul sombrio, entre aqueles tons rosados. (...) Iam calados, não viram o mirante; e, no caminho verde e fresco, a caleche passou com balanços lentos, sob os ramos que roçavam a sombrinha de Maria. O Sequeira ficara com a chávena de café junto aos lábios, de olho esgazeado,  murmurando:  
- Caramba! É bonita! 
Afonso não respondeu: olhava cabisbaixo, aquela sombrinha escarlate, que agora se inclinava sobre Pedro, quase o escondia, parecia envolvê-lo todo - como uma larga mancha de sangue alastrando a caleche sob o verde triste das ramas.
 QUEIROZ, Eça - Obras de Eça de Queiroz - Os Maias. Edição Livros do Brasil, Lisboa ( págs. 29 e 30)

No excerto do livro A Ilustre Casa de Ramires, do mesmo autor, Eça de Queiroz, a sombrinha é "apresentada" como um objecto com graça...

(...)
- É que não tardam  os anos da mana Graça! De todo esqueci, esqueço sempre! E sem ter um presentinho engraçado... Que seca, hem?
(...) Pois corria a Vila-Clara pedir ao sr. Manuel Duarte que lhe comprasse em Lisboa um bonito guarda-solinho de seda branca com rendas...
 QUEIROZ, Eça - Obras de Eça de Queiroz - A Ilustre Casa de Ramires. Livros do Brasil, 2015 ( pág. 61)


Fontes:
SIQUEIRA, Laura Viana -  "Sombrinhas": Ensaios nº 3. Museu Nacional dos Coches . Lisboa: Ministério da Comunicação Social. 1976.
VIEIRA, Joaquim - Portugal século XX : crónica em imagens . 1ª ed. [Lisboa] : Círculo de Leitores, imp. 1999.

QUEIROZ, Eça - Obras de Eça de Queiroz - Os Maias. Edição Livros do Brasil, Lisboa

http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/index.htm

http://www.matriznet.dgpc.pt/MatrizNet/Home.aspx

http://arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/pt/

https://gulbenkian.pt/museu/

http://www.bnportugal.pt/

domingo, 22 de janeiro de 2017

Rua da Judiaria I Alfama, Lisboa

(...)
3.º - A Judiaria de Alfama, ou a Judiaria Pequena da Torre de S. Pedro. Nesse bairro, que, como se sabe, não foi atingido pelo terramoto, ainda existe a respectiva Rua da Judiaria. Sabe-se também que essa Judiaria possuía uma sinagoga, que fora construída em 1373/74, como consta de uma sentença de D. Fernando que diz: « no anno da era myl quatrocentos onze a doze annos (=1373 a 1374) os judeus da dita cidade (Lisboa) fizeram sinagoga nova sem nosso mandado na Alfama...», pelo que foram condenados a pagarem a multa de 50 libras de ouro, «... e a livra ha de ser lxxij dinheiros douro», muita de que, aliás, o rei os absolveu, sob certas condições (4).
A Judiaria da Alfama, ou pelo menos a sua esnoga, foi fundada após a trágica investida das Judiarias pelas hostes de D. Henrique II de Castela, no seu ataque a Lisboa em 1371, o que explica a urgência que teve a comunidade judaica em fundar uma nova Judiaria e uma nova sinagoga, sem esperar a obtenção da prévia licença régia. Foi essa, provávelmente, a razão pela qual a comunidade israelita ficou absolvida do pagamento da multa de 50 libras em ouro que lhe foi imposta por ter construído nova sinagoga sem licença régia, sob a condição, porém, de que não «uzassem dela para sinagoga nem fazerem nella oras...», para não estorvarem «as oras da igreja de sam pedro», que se encontrava na proximidade da sinagoga.
(...)
Leia mais aqui, na Revista Municipal N.º 56; págs. 64 a 70. Câmara Municipal de Lisboa, 1953.

Revista Municipal Nº 56 - Hemeroteca digital



Pátio da Rua da Judiaria / Arco do Rosário - Fonte dos Poetas. Na foto, ao lado direito, vê-se um painel de azulejos (foto "comjeitoearte", 2016)




 Fonte dos Poetas, peixes-dragões (foto "comjeitoearte", 2016).

 Fonte dos Poetas "Esta fonte foi restaurada e é de todos. Por favor estime-a e não a danifique", (foto "comjeitoearte", 2016).


Painel de azulejos, na Rua da Judiaria / Arco do Rosário (foto "comjeitoearte", 2016).

Arco do Rosário / Terreiro do Trigo, 1968. Foto de Armando Maia Serôdio. Arquivo Municipal de Lisboa

Alfama depois da remodelação em 1960; negativo de gelatina e prata em acetato de celulose Foto de Armando Maia Serôdio. Arquivo Municipal de Lisboa

(...) 
Das judiarias de Lisboa temos conhecimento de quatro:
 1.ª A judiaria do Campo da Pedreira da qual D. Diniz desapossou os moradores em 1317-19, a fim de fazer doação do logar ao seu almirante Micer Manuel Peçanha.
 2.ª A judiaria nova, ou pequena, para onde se foram installar os judeus desalojados da judiaria do Campo da Pedreira por D. Diniz, e que durou até á expulsão dos judeus de Portugal em 1496-98. Consistia apenas n’uma rua, que na Lisboa actual seguia approximadamente o eixo da Egreja de S Julião, desde a porta principal até á fachada do Banco de Portugal, sobre a Rua Áurea (Rua do Ouro).Depois de extincta a judiaria, ao seu local passou a chamar se Villa nova d'apar da moeda, ou judiaria nova que foi .
3. ª judiaria velha, ou grande, ficava situada no valle da Baixa de Lisboa, entre a Rua da Magdalena e a Rua dos Correeiros, na actual cidade, e a Rua da Victoria e a Rua Nova de El Rei ou dos Capellistas, actualmente Rua do Comercio. A sua linha periférica está hoje perfeitamente definida, e acha-se traçada n’um mappa elaborado pelo auctor, e que faz parte da obra "As muralhas da Ribeira de Lisboa".
 Esta judiaria foi ,como as outras, extincta em 1496, e ao bairro passaram a chamar Villa Nova ou Villa Nova que foi judiaria grande.
 4.ª A judiaria d' Alfama, em Alfama, da qual resta, como único vestígio, o nome da rua onde estava situada,  Rua da Judiaria, que vae do Arco do Rosário, no Terreiro do Trigo, até ao Largo de S Rafael.
(...) 

Arqueologia e Historia, Volumes 7-8; pág. 61. Associação dos Arqueólogos Portugueses. Publicação  1829. Original de  Universidade da Califórnia




Fontes:
http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/index.htm
http://arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/pt/
https://books.google.pt/books?id=xVANAQAAIAAJ