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sexta-feira, 3 de junho de 2022

O casamento de uma princesa | Isabel II (Reino Unido)

Casamento Princesa Elisabeth. Fotógrafo: Anefo (Acervo de fotos).Material: Negativo de vidro. Data: 21 de Novembro de 1947. - Nacionaal Archief, Den Haag.

Na semana em que os britânicos festejam o Jubileu de Platina de Isabel II, do Reino Unido, partilho convosco excertos de um texto numa revista portuguesa, de 1947, sobre o casamento de Isabel II. 

O artigo intitula-se "Casou uma princesa". A autora, Alice Ogando (1900-1981), destacou-se como escritora, tradutora, actriz e encenadora de teatro radiofónico.


A princesa Isabel, com o uniforme do tempo de guerra. - " Modas e Bordados - Vida Feminina", nº 1869 de 3 de Dezembro de 1947 (Arquivo "comjeitoearte").

Casou há dias aquela que será um dia, para a História, Isabel de Inglaterra. O Império Britânico veste galas para festejar a sua princesa; sobre ela choveram todas as rosas dos mais fantásticos jardins. Isabel casou e casou por amor. Parabéns menina princesa.
(...)
Ao herdeiro ou herdeira de um trono são impostos uma esposa ou um consorte de sangue puro, perfeitamente dignos de se tornarem companheiros do seu altíssimo destino e poderem assegurar a descendência. Assim, as tristes majestades lá vão, um pálido sorriso nos lábios, pronunciar o "sim" sacramental com a alma erma de sonho, eternamente príncipes e não apenas noivos. 

Filipe de Mountbatten . - " Modas e Bordados - Vida Feminina", nº 1869 de 3 de Dezembro de 1947 (Arquivo "comjeitoearte").

Felizmente (...), a princesa Isabel casou por amor. Não a liga ao futuro marido uma razão de estado  (quase sempre lamentável razão humana), mas sim a lei imperiosa e linda do coração. Esta princesa, esta rainha de amanhã, ajoelhou ante o altar com o coração alvoroçado de esperanças como qualquer rapariguinha contente, cumprindo um destino que considera admirável porque um grande afecto recíproco lhe empresta grandeza.(...).


"Alguns dos modelos executados por um grande costureiro  de Londres para o enxoval da princesa: O vestido de noiva, em que trabalharam duzentas costureiras. Na mesma gravura vê-se o vestido com que a princesa Margarida apareceu na cerimónia do casamento da irmã." - " Modas e Bordados - Vida Feminina", nº 1869 de 3 de Dezembro de 1947 (Arquivo "comjeitoearte").


Com razão deve considerar-se venturosa esta princesa, gentil heroína de um conto fabuloso e admirável. Cumpriu o seu dever de futura rainha para com o seu povo e consigo própria: amou-o, sofreu com ele, viveu para ele. Pronto, a que será rainha de Inglaterra pagou o seu tributo. (...) Quem fala ainda em guerra, em desgraça, em luta, aos seus ouvidos juvenis? Uma rainha deve ser forte? Convenho, mas, por um instante só, esqueçam que será rainha esta menina Isabel, que ama e sonha ainda. (...) .



"Alguns dos modelos executados por um grande costureiro  de Londres para o enxoval da princesa: Um casaco e um vestido simples, para passeio". - " Modas e Bordados - Vida Feminina", nº 1869 de 3 de Dezembro de 1947 (Arquivo "comjeitoearte").

Assim, quando um dia, a coroa e os seus espinhos lhe fizerem doer, ela ainda saberá sorrir, porque, à mulher feliz, a difícil missão de reinar deve tornar-se deve tornar-se mais suportável.
No dia do seu casamento,o Mundo saudou a princesa Isabel, herdeira da coroa de Inglaterra, e, nesse dia, eu saudei sómente a menina Isabel - essa que, sendo rainha, pôde casar por amor.

Alice Ogando. Casou uma princesa"Modas e Bordados - Vida Feminina", nº 1869, 3 de Dezembro de 1947 


"Na sua visita à África do Sul, a princesa assistiu , descalça, a uma cerimónia. Partira-se o salto de um  sapato à rainha. Isabel cedeu à mãe os seus."- Modas e Bordados - Vida Feminina", nº 1869 de 3 de Dezembro de 1947 (Arquivo "comjeitoearte").




Modas e Bordados - Vida Feminina", nº 1869 de 3 de Dezembro de 1947 (Arquivo "comjeitoearte").



Modas e Bordados - Vida Feminina", nº 1869 de 3 de Dezembro de 1947 (Arquivo "comjeitoearte").



Presente de casamento




"Trabalho de renda de bilros executado por D. Alda Lopes de Mendonça, sobre desenhos de seus irmãos, Virgínia Lopes de Mendonça e Vasco Lopes de Mendonça, encomendado especialmente pela Queen Elisabeth School e que foi enviado, como presente de noivado, à princesa Elisabeth." 
Modas e Bordados - Vida Feminina", nº 1869 de 3 de Dezembro de 1947 (Arquivo "comjeitoearte").



Trabalhos em renda de bilros da autoria de Alda Bordalo Pinheiro de Lopes Mendonça.  - Eva - Jornal da Mulher e do LarEspecial Natal 1932 (pag 45). - Hemeroteca Municipal de Lisboa



Alda Lopes de Mendonça, rendeira (1885-1962), Virgínia Lopes de Mendonça, escritora e aguarelista (1881-1969), Vasco Lopes de Mendonça, engenheiro e artista plástico  (1883-1963), filhos de Henrique Lopes de Mendonça e de Maria Amélia Bordalo Pinheiro, eram sobrinhos de Rafael Bordalo Pinheiro e Columbano Bordalo Pinheiro.




Fontes:


https://www.nationaalarchief.nl/onderzoeken/fotocollectie/a8aff004-d0b4-102d-bcf8-003048976d84


https://pt.wikipedia.org/wiki/Alice_Ogando

Hemeroteca Digital Municipal de Lisboa
http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/Periodicos/Eva/Eva_Natal1932.htm

Museu  Bordalo Pinheiro
http://colecao.museubordalopinheiro.pt/ficha.aspx?id=52851&ns=216000&origem=0890501661552511771682150320240040830640701820301541261431680

Biblioteca Nacional de Portugal
https://purl.pt/14324/5/P120.html

"Modas e Bordados - Vida Feminina", nº 1869 de 3 de Dezembro de 1947 


terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Carmen Dolores, uma interprete admirável

 

CARMEN DOLORES. Suplemento nº 1754 "Modas e Bordados - Vida Feminina", 19 de Setembro de 1945.

 

"Carmen Dolores, a graciosa ingénua do cinema português, é também e, principalmente, uma interprete admirável de teatro radiofónico, onde a sua voz, de timbre agradabilíssimo, serve um temperamento artístico equilibrado e raro.

19 de Setembro de 1945.

Suplemento nº 1754, "Modas e Bordados - Vida Feminina", 


Carmen Dolores. Séc. XX. - Museu Nacional do Teatro, MatrizNet


Carmen Dolores (1924 - 2021), inicia-se no teatro radiofónico na Rádio Clube Português, aos 12 anos de idade. No ano de 1943, aparece no cinema, como protagonista de Amor de Perdição, uma adaptação do romance de Camilo Castelo Branco. Dois anos depois, em 1945, integra a Companhia Os Comediantes de Lisboa, com sede no Teatro da Trindade. 


Carmen Dolores em "Balanceada", em "Três Actos de Beckett"/Companhia Teatral do Chiado/Teatro Estúdio Mário Viegas. Data: 1991. Foto: Pedro Soares -  Museu Nacional do Teatro, MatrizNet


Carmen Dolores em "Virgínia" de Edna O'Brien, uma co-produção do Teatro Nacional D. Maria II e do Teatro Experimental de Cascais (TEC). Encenação de Carlos Avilez. Data: 1985 - Museu Nacional do Teatro, MatrizNet


Cenário da peça Sonho de uma Noite de Verão - Palácio de Teseu em Atenas. Desenho e pintura a guache. Autor: Lucien Donnat. Data: 1952. Peça apresentada pela Companhia Rey Colaço Robles Monteiro, no Teatro Nacional D. Maria II, em 1952. Carmen Dolores (Helena, namorada de Demétrio) -  Museu Nacional do Teatro, MatrizNet 



No Teatro Nacional D. Maria II, sob a direcção de Amélia Rey Colaço, inicia uma nova fase da sua carreira, com o sucesso de Frei Luís de Sousa de Almeida Garrett. 
Fundou, com outros actores, o Teatro Moderno de Lisboa, com a intenção de levar à cena peças de autores consagrados como William Shakespeare, August Strindberg, Fiódor Mikhailovitch Dostoiévski, ou  José Cardoso Pires.



Carmen Dolores. Programa da peça "As Espingardas da Mãe Carrar", exibida na Casa da Comédia, em 1975. Peça em um acto, original de Berlot Brecht. Música de José Manuel Osório. Encenação de João Lourenço. Cenários e figurinos de António Casimiro. - Museu Nacional do Teatro, MatrizNet.



Carmen Dolores em "Alice nos Jardins do Luxemburgo" exibida na Casa da Comédia. Peça original de Roman Weingarten. Música de José Gil. Cenografia de António Alfredo. Encenação de Jorge Listopad. Data: 1972. - Museu Nacional do Teatro, MatrizNet



Carmen Dolores em "O Mentiroso", apresentada pela Empresa Laura Alves, no Teatro Avenida. Original de Carlo Goldoni. Direcção de cena de Henrique Santos. Data: 1958. Foto: Furtado D'Antas. Museu Nacional do Teatro, MatrizNet


Figurinos para D. Maria Teles (Carmen Dolores) na peça Leonor Teles. Desenho e pintura a guache. Autor: Abílio de Mattos e Silva. Data: 1960. Peça apresentada pelo Teatro Nacional Popular, no Teatro da Trindade na temporada de 1959-1960. -  Museu Nacional do Teatro, MatrizNet 


Ao longo dos anos foi somando sucessos como actriz de teatro, cinema e televisão. A sua carreira no teatro incluiu cerca de três dezenas de peças, que interpretou entre 1952 e 2005, ano em que abandonou os palcos. No cinema, participou em cerca de duas dezenas de filmes, entre 1943 e 1988.

Carmen Dolores, "estrela" do cinema português que recebeu, recentemente o prémio de, cinema do Secretariado Nacional de Informação e Cultura Popular pela sua brilhante interpretação no filme " Um Homem às direitas".

4 de Abril de 1945

Suplemento nº 1730, "Modas e Bordados - Vida Feminina". 


Carmen Dolores em "O Vestido de Noiva" de João Gaspar Simões, no Teatro Nacional D. Maria II. Encenação de Robles Monteiro. Cenários de Lucien Donnat. Data: 1952. - Museu Nacional do Teatro, MatrizNet



Carmen Dolores (1ª à esquerda). Fotografia do grupo dos artistas da rádio. Casa do Alentejo em Lisboa. Autor: Foto Aviz. Data: Maio de 1946. - Fundação Portuguesa das Comunicações.


Cenário da peça Dente por Dente. Desenho, lápis de cera e colagem. Autor: António Pedro. Data: 1964. Peça apresentada pelo Teatro Moderno de Lisboa, no Cinema Império, em 1964. Carmen Dolores fez parte do elenco desta peça. -  Museu Nacional do Teatro, MatrizNet 


Recebeu diversos prémios e distinções de que se destaca: Medalha de Mérito Cultural (1991); Globo de Ouro (2004); Medalha Ouro de Mérito da Câmara Municipal de Lisboa (2014); Prémio António Quadros (2016); Prémio Sophia de Carreira (2016). Foi condecorada com a Ordem Militar de Sant'lago de Espada, Dama (1959); Ordem do Infante D. Henrique, Grande Oficial (2005); Ordem de Mérito, Grande Oficial (2018). 

A sala principal do Teatro de São Luís tem o nome da actriz.

Faleceu no dia 16 de Fevereiro de 2021, aos 96 anos de idade, em Lisboa.


CARMEN DOLORES. Suplemento nº 1730 "Modas e Bordados - Vida Feminina", 4 de Abril de 1945.

 

quinta-feira, 11 de junho de 2020

Responsório de Santo António

Santo António. Escultura em madeira, estofada, dourada e policromada. Séc. XVIII. Autor desconhecido. A peça foi mostrada em 3 exposições (1992;1993;1994). - Museu Nacional de Arte Antiga. MatrizNet

Quem milagres quer achar / Contra males e o demónio, / Busque logo a Santo António, / Que aí os há-de encontrar. 
Aplaca a fúria do mar, / Tira os presos da prisão, / Ao doente torna são, / E o perdido faz achar.  

Responsório de Santo António. Texto de Julieta Ferrão. Modas e Bordados nº 1741, de 20 de Junho de 1945, pág. 2.

E sem respeitar os anos, / Socorre a qualquer idade; / Abonem esta verdade / Os cidadãos paduanos.
Glória eterna dada seja / À Santíssima Trindade, / Por toda a eternidade; / Minha alma assim o deseja. 
- Orai por nós, bem aventurado António.
- Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.

O perdido faz achar?... Vamos, leitora amiga, não sente necessidade de repetir o Responso a Santo António, tanto mais que estamos no mês em que a súplica deve ser mais eficaz? Vamos pedir, pedir muito para que, no meio desta barafunda, possamos encontrar o perdido: o bom senso... o sentido das proporções... o equilíbrio... a equidade... o tempo perdido, de forma a alcançarmos disciplina nos espíritos, nas almas, nas coisas e até no espaço?
Nunca a confusão foi tão confusa! Já reparou no ar apressado, inquietante, agitado do nosso semelhante? Devemos confessar que não é só o semelhante, somos nós próprios, que andamos a correr, a atropelar numa carreira vertiginosa, para chegarmos depressa. Aonde? Não sei. Só verifico que nos esfalfamos, e, ao terminar o dia, quando pretendemos dar balanço ao aproveitamento da energia despendida, chegamos à conclusão de que nada fizemos e de que não nos chegou o tempo para coisa alguma! E, contudo, não parámos!
Desconfio de que o dia já não tem as 24 horas, a hora os sessenta minutos e o minuto os sessenta segundos que, ao iniciar os estudos, me afirmaram ter. Terá o tempo sido vítima de racionamento?
(...)
Mas... já acabou o dia? a semana? o mês? o ano? Mas... ontem não foi dia 1? O quê hoje já são 30? Mas, Santo António, em que foi que perdi o tempo?
Eu sei já não nos ser possível organizar programas pelo menos com intenção de os cumprir integralmente. A vida, hoje, é cheia de surpresas, de imprevistos, e estes é que contam. Mas, para os receber com espontaneidade tem que haver tempo. Tempo? Não, decididamente, o tempo foi alterado. Houve racionamento e não demos por ele. Só lhe damos pela falta...
Santo António valei-nos! (...)
Maio, 1945
Julieta Ferrão 


No mês de Santo António, transcrevo parte do texto da autoria de Julieta Ferrão, publicado em 1945 (Modas e Bordados nº 1741, de 20 de Junho, 1945 - pág. 2). 
Decorridos 75 anos  sobre a publicação deste texto, o seu conteúdo mantém-se actual.


Igreja de Santo António. Inauguração do Museu Antoniano, em !3/06/1962. Negativo de gelatina e prata em acetato de celulose, formato 9x12. Na foto, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa (António Vitorino França Borges) e Julieta Ferrão. Fotógrafo, Armando Maia Serôdio (1907-1978). - Arquivo Municipal de Lisboa


Julieta Bárbara Ferrão, nasceu em Lisboa (1899 - 1974 ). Foi historiadora e critica de arte. Estudou na Escola de Belas Artes, em Lisboa. No ano de 1927, assumiu o cargo de directora-conservadora do Museu Rafael Bordalo Pinheiro. A sensibilidade e a dedicação de Julieta Ferrão, foram importantes na divulgação e desenvolvimento do Museu e obra de Bordalo Pinheiro. Durante a primeira metade do século XX, foi Conservadora-Chefe dos Museus Municipais de Lisboa.
Santo António, Cónego Regrante de Santo Agostinho Escultura em madeira policromada. Séc. XIX. Autor desconhecido. A peça de Santo António Cónego Regrante de Santo Agostinho foi mostrada em 2 exposições (1995;2014). Museu de Aveiro. MatrizNet
.

Dinamizou a organização de várias exposições sobre Lisboa, entre elas “Santo António de Lisboa”, em 1935,  “Aqueduto das Águas Livres”, em 1940, e “Lisboa Joanina”, em 1950. Colaborou com os jornais Diário de Notícias, O Século, Modas e Bordados, entre outros. Escreveu diversas obras sobre a vida e obra de Rafael Bordalo Pinheiro
Julieta Ferrão recebeu a medalha de prata, em 1954. Dez anos depois, no dia 24 de Outubro de 1964, recebeu a medalha de ouro por assiduidade e bons serviços prestados durante quarenta anos à Câmara Municipal de Lisboa. 
Quatro anos após a sua morte, em 1978, o seu nome ficou perpetuado numa rua, em Lisboa.

Fontes:
https://maislisboa.fcsh.unl.pt/julieta-barbara-ferrao-uma-marca-dos-museus-de-lisboa/
https://de.wikipedia.org/wiki/Julieta_Ferr%C3%A3o
http://arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/pt/

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Maria Barroso: uma vida intensa

Maria Barroso. Modas e Bordados, suplemento nº 1777 - 27 de Fevereiro de 1946 (arquivo "comjeitoearte")

Maria de Jesus Simões Barroso Soares (Olhão, 2 de Maio de 1925) viveu intensamente. Foi actriz, declamadora, professora, activista política e defensora dos Direitos Humanos. Entrou no curso de Arte Dramática do Conservatório Nacional com 15 anos de idade. Trabalhou afincadamente, terminou o curso do Conservatório e ingressou no teatro. No ano de 1944, estreia-se no Teatro Ginásio na peça Sua Excelência, o Ladrão. Neste mesmo ano, ingressa como actriz contratada na Companhia Rey Colaço - Robles Monteiro, sedeada no Teatro Nacional D. Maria II, onde representa o Auto da Pastora Perdida e da Velha Gaiteira. Aos vinte anos, inicia o curso de Ciências Histórico-Filosóficas na Faculdade de Letras de Lisboa, continuando, porém, a representar no Teatro Nacional durante quatro anos. É demitida do teatro por ordem da polícia, pelas suas posições políticas, no ano de 1948. Um ano depois, casa com Mário Soares, ele próprio um resistente ao Estado Novo. O seu primeiro filho, João Soares, nasce em 1949. Dois anos depois nasce a filha Isabel Soares.


Maria Barroso. Modas e Bordados, suplemento  nº 1872 - 24 de Dezembro de 1947 (arquivo "comjeitoearte")

Atravessou  as décadas de 40 a 70 do século  XX, do regime ditatorial do Estado Novo (1933-1974) à Revolução do 25 de Abril de 1974, fazendo oposição a Salazar e Marcelo Caetano, em defesa da liberdade, pelo que correu  sérios riscos. Com a democracia, foi eleita deputada à Assembleia da República, nas legislaturas entre 1976 e 1983. Enquanto Mulher do Presidente da República (1986-1996) - primeira-dama de Portugal -, empenhou-se na defesa da Paz, dos Direitos Humanos, da educação, família e mulheres. Desenvolveu actividades de apoio à  integração de deficientes e prevenção da violência.


Maria Barroso. Foto: Victor Freitas - Revista Caras

Nos últimos 17 anos, Maria Barroso continuou a dedicar-se a muitas causas humanitárias e a intervir activamente na vida cultural do nosso país, com a dedicação e força interior que sempre a caracterizou. É sócio-fundadora e presidente do Conselho de Administração da ONGD Pro Dignitate - Fundação de Direitos Humanos, desde 1994. Presidiu à Cruz Vermelha Portuguesa entre 1997 e 2003. Foi distinguida com o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Aveiro (1996), pela Universidade de Lisboa (1999) e pelo Lesley College (1994). Recebeu diversos prémios e condecorações em Portugal e no estrangeiro, entre eles a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade de Portugal a 7 de Março de 1997 e a Grã-Cruz Honorária da ordem Real de Santa Isabel de Portugal a 3 de Julho de 2002. 


Maria Barroso no "Auto da Pastora Perdida". Modas e Bordados, suplemento nº 1777 - 27 de Fevereiro de 1946 (arquivo "comjeitoearte")

Nas entrevistas concedidas à revista “Modas e Bordados”  (1946 e 1947), Maria Barroso revela traços da sua personalidade e alguns conceitos de liberdade.

Na revista "Modas e Bordados", nº 1777 de 27 de Fevereiro de 1946, a jornalista Hortense Almeida escreve: 

Não se pode falar com Maria Barroso sem se simpatizar incondicionalmente com a artista. (...) Esta rapariga sai da generalidade das raparigas de hoje – mostra-se inteligente, sóbria, talentosa, culta e modesta. Estes cinco predicados raros, aliados ao amor pela arte, são o essencial para fazer dela uma grande actriz e uma actriz consciente.”
“Os nossos parabéns à artista e ao teatro português por contar nas suas fileiras com o nome de Maria Barroso, a sua inteligência, a sua sobriedade, o seu talento a sua cultura e a sua encantadora modéstia”. (Hortense Almeida, 1946 : 5 )

Modas e Bordados, suplemento nº 1777 - 27 de Fevereiro de 1946 (arquivo "comjeitoearte")
Modas e Bordados, suplemento  nº 1872 - 24 de Dezembro de 1947 (arquivo "comjeitoearte")

Questionada sobre a ambição de fazer o curso de letras, Maria Barroso responde:

MB - (...) "O curso interessa-me, tem-me interessado sempre como elemento de cultura, mas só como elemento de cultura. Entendo que o artista quanto mais culto melhor servirá a arte. Gosto de estudar e tenho estudado sempre com prazer, embora hoje reconheça que o curso não me dará a cultura desejada".  
(...) "Mas a verdade é unicamente uma - quem quiser ser culto não pense sê-lo só por ter debaixo do braço um diploma de qualquer curso superior".(Hortense Almeida, 1946 : 11 )

Peça Os Maridos Peraltas e as Mulheres Sagazes (1945), Cª Rey Colaço - Robles Monteiro, Teatro Nacional. D. Maria II. Foto de Horácio Novais. Fotografia de cena: Beatriz Santos (D.Beatriz) e Maria Barroso (D. Rozaura), entre elas e debruçada sobre as costas do sofá está a actriz Maria José (Columbina, criada) Museu Nacional do Teatro- Matriznet
Maquete de cenário para a peça Os Maridos Peraltas e as Mulheres Sagazes (1945). Guache sobre papel. Autor: Lucien Donnat. Cª Rey Colaço - Robles Monteiro, Teatro Nacional. D. Maria II - Museu Nacional do Teatro- Matriznet

No decorrer da entrevista, a jornalista pergunta-lhe o que pensa da mulher portuguesa. 

MB - “Podemos dividir a mulher portuguesa em dois grupos. Um, formado pelas meninas e senhoras “bibelot” – frívolas e inúteis – o outro constituído por aquelas que acharam o verdadeiro equilíbrio e o mantêm com dignidade e inteligência. O primeiro, infelizmente, representa a maioria – o segundo, para mal de todas nós, não passa de uma escassa e confrangedora minoria. 
A mulher é ainda, na maioria dos casos, um fantoche dócil nas mãos dos preconceitos, mas, um dia, ela saberá libertar-se das algemas de ouro, cravejadas de brilhantes com que as têm acorrentado à rotina...”
(Hortense Almeida, 1946 : 11 )

Peça Os Maridos Peraltas e as Mulheres Sagazes(1945), Cª Rey Colaço - Robles Monteiro, Teatro Nacional D. Maria II. Fotografia de cena, em palco: D. Beatriz (Beatriz Santos); Lélio, marido de D. Beatriz (Henrique Santos); Balestra, o criado (Pedro Lemos); Columbina, a criada (Maria José); Florindo, marido de D. Rozaura (Augusto Figueiredo) e D. Rozaura (Maria Barroso) - Museu Nacional do Teatro- Matriznet

Maquete de cenário para a peça Os Maridos Peraltas e as Mulheres Sagazes” (1945). Guache e tinta da china sobre papel. Autor: Lucien Donnat. Cª Rey Colaço - Robles Monteiro, Teatro Nacional. D. Maria II - Museu Nacional do Teatro- Matriznet

O tema “Benilde ou a Virgem Mãe”, drama em 3 actos de José Régio, subiu à cena do Teatro D. Maria II, no dia 23 de Novembro de 1947. 

Na revista "Modas e Bordados", nº 1872 de 24 de Dezembro de 1947, a jornalista Maria Estrela Monteiro escreve: 

(...)"Foi Maria Barroso, uma jovem actriz que tanto nos promete, quem interpretou extraordinariamente bem, o arrojado papel de Benilde. Ela soube dar a justa medida, tão necessária na interpretação teatral e muito em especial quando se trata de peças no estilo desta de José Régio.
 “Maria Barroso é uma rapariguinha simples, despreocupada de qualquer vaidade, em suma, uma aluna do 4º ano de História e Filosofia. Possuidora de uma sólida e vasta cultura, ela dá às peças que interpreta, a par com o seu talento, a segurança de quem sabe o que está a fazer”. (Maria Estrela Monteiro, 1947: 4)

Peça "Benilde ou a Virgem Mãe"(1947) Cª Rey Colaço - Robles Monteiro, Teatro Nacional D. Maria II. Obra original de José Régio. Fotografia de cena, em palco as actrizes Amélia Rey Colaço, Maria Barroso e Augusto Figueiredo numa cena do 3º acto - Museu Nacional do Teatro- Matriznet
Filme "Benilde ou a Virgem Mãe"(1975). Obra original de José Régio. Realização e argumento de Manoel de Oliveira. Fotografia com os actores: Augusto Figueiredo (padre Cristóvão); Maria Barroso (Genoveva); Jorge Rola (Eduardo); Maria Amélia Matta (Benilde)- CINEPT 

A jornalista pergunta a Maria Barroso se a personagem "Benilde" foi a que gostou mais de representar durante a sua vida de teatro.

MB - "Foi sim . Se bem que julgue ser o meu género, o género a que chamo de “genica” (não é muito elegante a palavra mas é a que costumo empregar, por ser a mais eloquente neste caso), embora me interessem sobretudo os papéis humanos, as figuras de “raparigas muito deste mundo, o certo é que a Benilde me apaixonou. Gosto de trabalhar, de vencer ou, pelo menos, tentar vencer as dificuldades que se me deparam. A Benilde foi, no campo teatral, a maior dificuldade que se me deparou até hoje. Fiz um esforço, uma grande tentativa para vencê-la; pus nisso o melhor do meu trabalho e da minha vontade. Não consegui vencer? Paciência... Dos fracos não reza a história, não é verdade, Maria Estrela?(Maria Estrela Monteiro, 1947: 4)

Peça de Júlio Dantas "Antígona". Levada à cena pela Cª Rey Colaço Robles Monteiro no Teatro Nacional D. Maria II em 1946. Fotografia de cena com as actrizes: Mariana Rey Monteiro (Antígona) e Maria Barroso (Isménia) - Museu Nacional do Teatro - Matriznet

Figurino para "Isménia" (Maria Barroso) para a peça de Júlio Dantas "Antígona". Guache em papel sobre cartolina. Autor: Lucien Donnat. Encenação de Amélia Rey Colaço Robles Monteiro e Erwin Meyenburg. Levada à cena pela Cª Rey Colaço-Robles Monteiro no Teatro Nacional D. Maria II em 1946 - Museu Nacional do Teatro - OPSIS 


No final da entrevista a jornalista Estrela Monteiro agradece: 
“Obrigada, Maria Barroso, e creia que lhe desejamos sinceramente que muitas “Benildes” se lhe deparem no seu caminho para que as possa vencer como venceu esta”.(Maria Estrela Monteiro, 1947: 4)


Maquete de cenário (lado direito) para a peça de Júlio Dantas"Antígona". Guache em papel sobre cartolina. Autor: Lucien Donnat. Encenação de Amélia Rey Colaço, Robles Monteiro e Erwin Meyenburg. Levada à cena pela Cª Rey Colaço Robles Monteiro no Teatro Nacional D. Maria II em 1946 - Museu Nacional do Taetro -  OPSIS 

No teatro profissional, Maria Barroso participou em peças levadas à cena pela Companhia Brunilde Júdice-Alves da Costa (Sua Excelência, o Ladrão - 1944; Madre Alegria - 1944) e Companhia Rey Colaço-Robles Monteiro (Auto da Pastora Perdida e da Velha Gaiteira - 1944; Comédia Nova dos Maridos Peraltas e das Mulheres Sagazes - 1945; Férias - 1945; Vidas sem Rumo - 1945; Frei Luís de Sousa - 1945; Antígona - 1946; Benilde ou a Virgem Mãe - 1947; Retablo de Maravillas - 1947; A Casa de Bernarda Alba - 1948, entre outras).



Peça "Férias" (1945) Cª Rey Colaço - Robles Monteiro, Teatro Nacional D. Maria II. Fotografia de cena, em palco as actrizes: Maria Barroso, Beatriz Santos, Maria José, Augusto Figueiredo, Meniche Lopes e Gabriel Pais. Foto de Horácio Novais - Museu Nacional do Teatro- OPSIS

No cinema, Maria Barroso teve participações em filmes de Armando Miranda (1947 - Aqui, Portugal), Paulo Rocha (1966 - Mudar de Vida) e Manoel de Oliveira (1975 - Benilde ou a Virgem Mãe; 1977 - Amor de Perdição; 1979 - Amor de Perdição; 1985 - O Sapato de Cetim - Prémio L'Age d'Or, pela Cinemateca Real da Bélgica, em 1985).


Maria Barroso morreu no dia 7 de Julho de 2015, no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa, onde estava internada devido a uma queda. (Este post foi reformulado no dia 7 de Julho de 2015)


Filme "Mudar de Vida".(1966). Realização e argumento de Paulo Rocha. Prémio da Casa da Imprensa para Melhor Filme e 2º Prémio João Ortigão Ramos (19967)- CINEPT
Fotografia do filme "Mudar de Vida" (1966). Maria Barroso (Júlia). Realização e argumento de Paulo Rocha - CINEPT


Fontes:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Maria_Barroso
http://www.infopedia.pt/$maria-barroso-soares
http://www.prodignitate.pt/Curriculum_completo.pdf
http://caras.sapo.pt/
http://www.cinept.ubi.pt/pt/
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Xavier, Leonor (1995), Um Olhar sobre a vida. Lisboa: Difusão cultural.