No mês de Fevereiro de 2014, a Assembleia Municipal de Lisboa, aprovou o Plano de Acessibilidade Pedonal, com o objectivo de facilitar a mobilidade dos peões na cidade. As 100 medidas que integram o plano serão implementadas até 2017.
Um dos pontos que tem gerado mais controvérsia, é a substituição da calçada portuguesa em algumas zonas da cidade de Lisboa.
Com a finalidade de preservar o pavimento, o blogue Cidadania LX, publicou uma petição “Pela Manutenção da Calçada Portuguesa na Cidade de Lisboa!”.
Calçada portuguesa na Rua Barata Salgueiro. Negativo de gelatina e prata e nitrato e celulose.Fotógrafo: António Passaporte (1901-1983) - AML
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A calçada portuguesa é conhecida como um dos símbolos da cidade de Lisboa. Tal como o nome indica, é originária de Portugal.
O início do calcetamento das ruas de Lisboa, mais precisamente a Rua Nova dos
Mercadores, ficou marcado pela cartas régias assinadas pelo rei D.
Manuel I, em 20 de Agosto de 1498 e em 8 de Maio de 1500.
Calçada portuguesa em ziguezague. Castelo de São Jorge, (tropa em formatura) século XX. Negativo de gelatina e prata sobre vidro. Fotógrafo: Paulo Guedes (1886-1947) - AML |
A calçada como hoje a conhecemos, com troços de pedra calcária traçando desenhos, nasceu em Lisboa, no ano de 1842. O trabalho foi executado por reclusos, sob a orientação do Governador Militar do Castelo de São Jorge, o tenente-general Eusébio Pinheiro Furtado.
O pavimento então realizado, com desenhos em forma de ziguezague, era bastante original para a época. O sucesso deste facto, levou a que o militar fosse encarregado de pavimentar outras áreas da Baixa Pombalina.
Calceteiros britando a pedra na Avenida da Liberdade (1907). Negativo de gelatina e prata em vidro. Fotógrafo: Joshua Benoliel (1873-1932) Ilustração Portuguesa, 22 de Abril de 1907, pág. 501- AML |
No início do século XX, o magazine semanal "Ilustração Portuguesa" (22 de Abril de 1907, pág. 500), elogiava o trabalho dos calceteiros, desta forma:
(…)Elle representa para nós mais que a obra material de um artífice vulgar, - a arte de dispor as ruas e os passeios da cidade de modo a não prejudicar os pequeninos pés das lisboetas que os pisam.
Dize-me por onde andas dir-te-hei os pés que tens. Há pezinhos minúsculos que parece terem sido feitos para só poisarem em flôres. Não o disse João de Deus?
Ah! não ser eu o mármore que pisas…Calçava-te de beijos!
(…) Os nossos pés estão assim á mercê de suas excellencias; e parece que suas excellencias têm tão extremo cuidado no seu trabalho que de longes terras os veem procurar a Lisboa, como ainda não há muito aconteceu com o empreiteiro geral das novas avenidas do Rio de Janeiro, que levou d'aqui um bando dos mais afamados calceteiros. A mulher de Lisboa calça, de ordinário, muito bem; e não há em todo o paiz, terra que fabrique melhor calçado feminino.(…) Como seriam curiosas, para o estudo do pé alfacinha, as memórias de um calceteiro amável! (...)
Ilustração Portuguesa (1907:500)
Os calceteiros aprendem as técnicas de partir a pedra e calcetar. Com o auxílio do martelo, fazem pequenos acertos na forma da pedra, e, com o ajuda de moldes em madeira, preenchem os espaços com as pedras de diferentes cores, formando os motivos no pavimento.
Moldes auxiliares na demarcação de desenhos e letras - Associação de Exploradores de Calçada à Portuguesa, AECP |
Molde em madeira, caravela (1980) - Arquivo do ComJeitoeArte |
Calçada portuguesa, a caravela. Armas da cidade de Lisboa. Praça Marquês de Pombal. Negativo de gelatina e prata e nitrato e celulose. Fotógrafo: António Passaporte (1901-1983) - AML |
Pedra calcária, partida em forma de hexágono, usada na calçada sextavada (1980) - Arquivo do ComJeitoeArte |
Pedra calcária usada na calçada sextavada (1980) - Arquivo do ComJeitoeArte
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Molde em madeira (1980) - Arquivo do ComJeitoeArte
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Pavimentação de um passeio na Avenida da Liberdade (1959). Calçada portuguesa. Negativo de gelatina e prata em acetato de celulose. Fotógrafo: Benoliel, Judah (1890-1968) - AML |
Desenho do empedrado da Praça Marquês e Pombal (1960). Negativo de gelatina e prata em acetato de celulose. Fotógrafo: Armando Serôdio (1907-1978) - AML |
Desenho do empedrado da Praça Marquês e Pombal (1960). Negativo de gelatina e prata em acetato de celulose. Fotógrafo: Armando Serôdio (1907-1978) - AML |
Desenho do empedrado da Praça Marquês e Pombal (1960). Negativo de gelatina e prata em acetato de celulose. Fotógrafo: Armando Serôdio (1907-1978) - AML |
Desenho do empedrado da Praça Marquês e Pombal (1960). Negativo de gelatina e prata em acetato de celulose. Fotógrafo: Armando Serôdio (1907-1978) - AML |
Em Cristalizações, poema de José Joaquim Cesário Verde (1855-1886), o trabalho dos calceteiros também é referido:
Cristalizações
Faz Frio. Mas, depois de uns dias de aguaceiros,
Vibra uma imensa claridade crua.
De cócoras, em linha os calceteiros,
Com lentidão, terrosos e grosseiros,
Calçam de lado a lado a longa rua
(…)
Bom tempo. E os rapagões, morosos, duros, baços,
Cuja coluna nunca se endireita,
Partem penedos; cruzam-se estilhaços,
Pesam enormemente os grossos maços,
Com que outros batem a calçada feita.
(…) Verde (1968: 84-88)
Verde,José Joaquim Cesário Verde, 1968. Obra Completa, 4ª edição. Universidade de Brasília.
Dominio publico.
Grupo de calceteiros na Praça Dom João da Câmara (1907). Negativo de gelatina e prata em vidro. Fotógrafo: Joshua Benoliel (1873-1932) Ilustração Portuguesa, 22 de Abril de 1907, pág. 501- AML |
Praça dos Restauradores (2005). Autor: Tiseb (Calçada portuguesa com desenho de padrão da autoria de João Abel Manta). Wikimedia Commons |
Calçada à portuguesa, com desenho de padrão da autoria do pintor João Abel Manta, na Praça dos Restauradores. (2009) Foto: Gabriele Luvara - Wikimedia Commons |
Fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cal%C3%A7ada_portuguesa
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cal%C3%A7ada_portuguesa
http://www.aecp.org.pt/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Joaquim_Azinhal_Abelho
http://arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/
http://www.tsf.pt/PaginaInicial/Portugal/Interior.aspx?content_id=3694236
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Jardim_Pra%C3%A7a_do_Imp%C3%A9rio_012_(7258597808).jpg
http://pt.wikipedia.org/wiki/Joaquim_Azinhal_Abelho
http://arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/
http://www.tsf.pt/PaginaInicial/Portugal/Interior.aspx?content_id=3694236
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Jardim_Pra%C3%A7a_do_Imp%C3%A9rio_012_(7258597808).jpg
http://commons.wikimedia.org/wiki/File%3AViews_From_The_Sea_Discoveries_Monument_-_Wind_Rose_World_Map_(7537904330).jpg
http://commons.wikimedia.org/wiki/File%3ARestauradores-CCBYSA.jpg
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Passeio_da_Pra%C3%A7a_dos_Restauradores.jpg
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B3nio_Ribeiro_Chiado
http://commons.wikimedia.org/wiki/File%3ARestauradores-CCBYSA.jpg
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Passeio_da_Pra%C3%A7a_dos_Restauradores.jpg
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B3nio_Ribeiro_Chiado
Bem haja por este roteiro sobre um exclusivo que tão disparatadamente tem sido desrespeitado, pelo menos, a sua falta de respeito revela desconsideração pelo labor árduo dos nossos calceteiros que, com eles, foi possível ter estes testemunhos da nossa cultura que encontra raízes na História bem profundas!
ResponderEliminarAgradeço o seu comentário. Saudações.
EliminarThis is a very beautiful grouping of the Portuguese tesselated sidewalks! Thank you.
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